Título: Juro já sobe por turbulência
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 25/09/2007, Economia, p. 21

Segundo BC, incertezas podem afetar reduções a longo prazo.

BRASÍLIA. A turbulência que sacudiu o mercado financeiro internacional nos últimos 40 dias refletiu-se nas taxas de juros cobradas tanto das empresas quanto das pessoas físicas no Brasil nesse período, mesmo com o volume de crédito na economia chegando a 33% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país). Diante do quadro, o Banco Central (BC) já não descarta que seja interrompida a tendência geral de queda nos juros "a longo prazo", caso as incertezas externas se estendam por mais tempo. Isso porque, apesar do recuo na taxa geral verificado em agosto - que mascarou uma alta para pessoas jurídicas e em várias modalidades de financiamento ao consumidor -, os juros médios subiram no início de setembro.

Em agosto, por exemplo, a média geral dos juros recuou 0,2 ponto percentual, para 35,7% ao ano, mas especificamente para pessoas jurídicas houve alta de 0,1 ponto, a 23,1% ao ano. Já para o consumidor houve queda de 0,4 ponto no mês passado, para 46,6%, movimento anulado em setembro - nos seis primeiros dias úteis deste mês, voltou a 47%. Para as empresas, as taxas recuaram 0,2 ponto.

- Ainda é cedo para falar o que vai acontecer, porque é pouco tempo (em setembro). A curto prazo, devemos continuar vendo redução de juros, porque o spread (diferença entre o custo de captação e a taxa cobrada pelos bancos) é elevado. Mas a longo prazo, se o cenário de volatilidade continuar, esperamos estabilidade - afirmou ontem o chefe do departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Segundo ele, em setembro o uso de cheque especial cresceu 5,8%, com os juros também sendo puxados em 0,7 ponto. Em agosto, a taxa ficou em 139,5% ao ano. No mês passado, apenas os juros do crédito pessoal recuaram 0,7 ponto, para 49,9% ao ano.

O spread para pessoa física recuou um ponto percentual, para 35,3 pontos. Segundo Lopes, isso ocorreu porque os juros são elevados e, assim, "há mais gordura para queimar". Isso acabou compensando o aumento do custo de captação que os bancos enfrentaram no mês passado, de 0,2 ponto, para 11% ao ano, evitando uma alta maior para o consumidor. Para as empresas, o spread de agosto passou de 12,1 para 12,4 pontos percentuais.

O volume de crédito chegou a R$841,5 bilhões, 2,9% mais do que em julho. Os 33% do PIB alcançados ainda estão abaixo da maior marca já registrada, em janeiro de 1995: 36,8%.