Título: Bolsa dá a volta por cima
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 25/09/2007, Economia, p. 21

Bovespa anula perdas e atinge recorde histórico, apesar de crise nos Estados Unidos.

Em meio à crise no mercado de hipotecas de alto risco dos Estados Unidos, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) bateu ontem recorde histórico ao fechar em alta de 1,59%, aos 58.719 pontos, anulando as perdas com a turbulência mundial iniciada no dia 24 de julho. Foi o 33º recorde do ano e a terceira vez que o pregão ficou acima dos 58 mil pontos em 2007. Desde o auge da crise, no dia 16 de agosto, a Bolsa já subiu 22%. Segundo analistas, a valorização de ontem foi puxada pelo forte avanço dos papéis da Vale do Rio Doce, devido à expectativa de reajuste do minério de ferro, e da Petrobras, com o alto preço do petróleo. Já o dólar caiu 0,05%, para R$1,869. O risco-Brasil avançou 0,58%, para 172 pontos centesimais.

Com a alta, a Bovespa se descolou do mercado americano, que fechou em queda devido à fraqueza das ações do setor financeiro, após notícias de que os problemas no setor de crédito podem ter reduzido em US$2,4 bilhões o lucro trimestral do banco alemão Deutsche Bank, além das preocupações com a greve na General Motors. Em Nova York, o Dow Jones caiu 0,44%, o Nasdaq, 0,12% e o S&P, 0,53%.

Ações já valem R$ 2,2 trilhões

Os estrangeiros estão voltando com força ao mercado brasileiro, segundo informou ontem a Bovespa: este mês, até o dia 19, o saldo de investimentos externos está positivo em R$1,873 bilhão. Em julho, havia ficado negativo em R$3,248 bilhões e, em agosto, em R$605,9 milhões. No acumulado do ano, o balanço ainda está no vermelho em R$2,119 bilhões.

Segundo Durval José Soledade Santos, diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), existem atualmente 40 pedidos de ofertas públicas iniciais de ações (ou seja, solicitando abertura de capital) em análise na autarquia. No total do ano, segundo ele, as empresas já captaram R$45,85 bilhões na Bolsa, até agosto. Ontem, o valor de mercado das companhias com ações listadas na Bolsa chegou a R$2,250 trilhões, em nível recorde, segundo cálculos do professor da ESPM-RJ Alexandre Espírito Santo. Durval lembrou que o número está próximo da previsão do Ipea para o Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) neste ano: R$2,423 trilhões.

Para Nuno Camara, economista sênior para América Latina do Dresdner Kleinwort, em Nova York, a alta da bolsa brasileira é reflexo da queda dos juros básicos dos EUA, promovida pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em meio ponto percentual, para 4,75% ao ano, na última semana:

- O Brasil está menos dependente do cenário externo, o que prova quanto vale a pena fazer o dever de casa. A queda dos juros nos EUA mostrou que o Fed está pronto para agir e isso animou os investidores.

Na opinião de Reginaldo Galhardo, da Treviso Corretora, muitos investidores estão operando com cautela, já que esta semana saem dados importantes sobre o setor imobiliário americano. Por isso, continua ele, ninguém está comprando nem vendendo mais que deve.

- Muitos investidores, que já estão com recursos aplicados no país, estão saindo do mercado de renda fixa e investindo na Bolsa. Além disso, no câmbio, houve uma operação com um banco brasileiro, que comprou dólar. Sem isso, a divisa teria caído forte - explica Galhardo.

O destaque ficou por conta das ações da Vale e Petrobras, que representam 29,24% do Ibovespa, índice que reúne os papéis mais negociados. As ordinárias (ON) da mineradora subiram 4,58%, e as preferenciais (PNA) avançaram 5,26%. Segundo Daniella Marques, da Mercatto, o preço de commodities como o níquel e o cobre subiram 2,51% e 1,47%, respectivamente. Além disso, o possível reajuste de 30% no preço de minério de ferro para 2008 contribuiu para o resultado. Com o alto patamar do preço do petróleo e a recente confirmação de descoberta de petróleo leve na Bacia de Santos, as ações PN da Petrobras subiram 2,56%; e as ON, 2,11%.

Segundo pesquisa semanal Focus, do Banco Central, divulgada ontem, o mercado revisou para cima a projeção de inflação para 2008 pela primeira vez em 11 semanas. Os cálculos passaram de 4% para 4,10%. Também para 2007 o mercado espera inflação ligeiramente maior, de 4,01% para 4,02% pelo IPCA. Em ambos casos, os números estão abaixo da meta oficial de 4,5%.

COLABORARAM Felipe Frisch e Patrícia Duarte

PARA FMI, MUNDO CRESCERÁ MENOS COM A CRISE, na página 22