Título: Lula banca Walfrido
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 26/09/2007, O Globo, p. 2

O governo fez um forte movimento nas últimas horas para fortalecer o ministro Walfrido Mares Guia, das Relações Institucionais e afastar o olho grande sobre seu posto. De Nova York, o próprio presidente Lula mobilizou ministros, falou duas vezes por telefone com Walfrido e decidiu: ele fica no cargo mesmo que seja denunciado pelo procurador-geral Antonio Fernando no processo do valerioduto mineiro.

Antes de viajar, Lula mandou que o ministro continuasse trabalhando normalmente. Na viagem, andou dizendo que não deixaria repetir-se com ele o que houve com Silas Rondeau, demitido do ministério das Minas e Energia no estouro da Operação Navalha. A PF o acusou de ter recebido um suborno da construtora Gautama. A acusação não se comprovou, Lula gostaria de renomeá-lo e aguardo ansioso que o procurador faça a denúncia. Ele sendo mesmo excluído, voltaria ao ministério.

Ontem, pela manhã, os ministros Dilma Rousseff, Paulo Bernardo e Franklin Martins, mobilizados por Lula, hipotecaram apoio ao ministro. A seguir, ele participou de uma reunião organizada por Gilberto Carvalho, chefe do gabinete pessoal do presidente, com os chefes de gabinete de todos os ministérios da Esplanada. O assunto era a necessidade de atender parlamentares com mais agilidade mas virou sessão de solidariedade. Muitos líderes ligaram para Walfrido, inclusive o senador José Sarney. O presidente e o líder do PMDB, Michel Temer e Henrique Eduardo Alves, foram tratar da votação da CPMF mas saíram declarando confiança em sua inocência. Depois de recebê-los, Walfrido declarou:

- Estou firme como prego fundido no concreto. A orientação do presidente é para que eu continue trabalhando, mesmo que haja a denúncia, que não é condenação. Mas continuo revoltado e acreditando que o procurador, depois de examinar a documentação que vou lhe apresentar, não faça isso.

O relatório da Polícia Federal o acusa de ter ajudado a montar o caixa dois que financiou a campanha do tucano Eduardo Azeredo à reeleição como governador de Minas, em 1998, o chamado valeriduto mineiro, em que Marcos Valério iniciou-se na terceirização de finanças partidárias.

- Em 1998 não figurei como vice na chapa de Azeredo nem coordenei sua campanha. Fiz isso em 1994. E por ter tido esta experiência é que, ainda na pré-campanha de 1998, fiz estimativas de gastos com despesas de campanha. A letra é minha, mas isso prova o quê? Um papel prova um caixa dois?

O segundo indício, segundo a PF, é o fato de ele ter participado de reunião que escolheu o publicitário Duda Mendonça para fazer o marketing da campanha. O terceiro, surgiu quatro anos mais tarde, em 2002, quando Azeredo, com um título protestado, recorreu a Walfrido. O título era de R$700 mil. Amigos haviam arranjado R$200 mil e outra pessoa entrado com R$500 mil. O Banco Rural emprestaria, se o tomador fosse Walfrido, disse Azeredo. O ministro fez o empréstimo em nome de sua empresa patrimonial, a Samos.

- Fui lá, assinei os papéis e também um cheque para ser depositado na conta do credor dos R$500 mil. Só muito tempo depois soube que não era a SMP& B mas o próprio Valério.

Por fim, a PF suspeita da movimentação financeira da Samos.

- Criei esta empresa quando vendi a Biobrás, que como todo mundo no Brasil sabe, era uma grande empresa de biotecnologia (fabricava insulina, entre outros produtos) a uma multinacional. Na sexta-feira, vou levar ao procurador a auditoria da Price Whitherhouse e, se ficar pronta, uma outra da Receita Federal, que vão demonstrar cabalmente a origem limpa e coerente dos recursos da Samos - diz ele.

Por ora, a gula aliada arrefeceu. Neste caso, o que mais conta o fogo amigo pois a oposição finge não ter nada com isso.