Título: Depois do otimismo, comedimento
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 26/09/2007, O País, p. 4

Diferença de tom de discursos de Lula e Bush chama atenção.

NOVA YORK. Um parecia transpirar otimismo. O outro demonstrava certo comedimento. A diferença de tom entre os discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente George W. Bush, um seguido do outro, na abertura da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, foi o assunto mais comentado pelos corredores assim que os dois saíram do plenário.

Enquanto Lula falou de justiça social e preservação do meio ambiente, George W. Bush, pressionado pela convocação de Ban Ki-Moon para que a ONU lidere os debates sobre o combate ao aquecimento global e pela visita do iraniano Mahmoud Ahmadinejad a Nova York, centrou sua fala no combate ao terrorismo e no convite aos 16 países que estão entre os maiores do mundo a participar de um encontro paralelo à conferência da ONU, em Washington, na quinta e na sexta-feiras. Os dois foram muito aplaudidos, mas nos bastidores a diferença de tom nos dois discursos foi muito comentada.

E a maior saia justa do Brasil foi exatamente no que se refere ao presidente iraniano, que fez uma consulta ao Itamaraty para passar pelo Brasil durante a visita que pretende fazer à Venezuela, e teve como resposta que não havia "compatibilidade de agenda", nas palavras do ministro Celso Amorim.

O presidente iraniano foi tema também da conversa de Lula com o presidente francês, Nicholas Sarkozy, que queria o apoio do Brasil para sanções ao Irã. O presidente brasileiro fez questão de reafirmar que seria precipitado aprovar sanções contra o Irã num momento em que o parecer da Agência Internacional de Energia Atômica e de seu diretor-geral, Mohamed El Baradei, diz que o programa energético iraniano de enriquecimento de urânio não dá indícios de desenvolvimento de armas atômicas:

- Se o presidente iraniano quer enriquecer urânio, tratar a questão nuclear como uma coisa pacífica, ele tem direito a fazer experiência energéticas que quiser, desde que seja para fins pacíficos. O Irã não cometeu nenhum crime contra toda a orientação da ONU com relação a arma nuclear - disse Lula.