Título: Amorim diz que negociação sobre comércio exige tempo e detalhe
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 26/09/2007, O País, p. 4

VISITA À ONU: "O importante foi a retomada de negociações", analisa chanceler.

Ministro afirma que reunião com Susan Schwab é o começo de encontros bilaterais.

NOVA YORK. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, saiu do encontro com a secretária de Comércio dos EUA, Susan Schwab, sem um número mágico para a aprovação de um acordo para a redução do limite de gastos do governo americano com subsídios agrícolas. Segundo Amorim, nem ele nem a secretária americana queriam encerrar as negociações:

- Conversamos, mas não negociamos. Quando chegava perto da hora de negociar, tomávamos a iniciativa de parar. Essas conversas exigem tempo, e iniciamos um processo longo. Essas coisas exigem tempo e detalhe. Foi importante retomar o diálogo, que praticamente havia sido interrompido. Apreciamos o gesto que os EUA fizeram.

O ministro insistiu que, seja na área ambiental, seja na área comercial, o Brasil não pode ter apenas uma atitude reativa:

- O Brasil quer ter atitude pró-ativa em relação a tudo, inclusive meio ambiente. Não se pode pensar em meio ambiente sem pensar em resolver a pobreza, porque senão a própria pobreza vai se encarregar de destruir o meio ambiente.

Para Amorim, o encontro de ontem no Waldorf Astoria com Susan Schwab, é o começo de uma série de novos encontros e consultas bilaterais, já que agora será iniciado o processo de conversa com os outros países do grupo de 20 que apóiam a posição brasileira na exigência de redução das barreiras para o acesso ao mercado americano:

- Iniciamos um processo de conversas e consultas bilaterais. Esse processo deve continuar em Genebra, e vamos prosseguir as conversas com os países do grupo IBAS, que reúne Índia, Brasil, África do Sul. O presidente Lula vai à África do Sul em outubro para esse encontro. Lá pelo fim de outubro, teremos outro texto dos presidentes e então sim voltaremos a negociar com os EUA - disse Amorim.

O ministro disse que os americanos continuarão a trabalhar para chegar o mais próximo possível de um acordo:

- O importante foi a retomada de negociações. Eles continuaram a falar no intervalo entre US$16 bilhões e US$13 bilhões, mas disseram que precisam de mais tempo. O importante foi a disposição do presidente Bush em continuar negociando - disse Amorim.

O ministro brasileiro disse que pediu à secretária de Comércio dos EUA apoio para que tarifas e subsídios europeus para produtos agrícolas sejam reduzidos, e que recebeu de Susan Schwab a promessa de agir nessa direção.

- É preciso clareza para que possamos agir a fim de que a União Européia participe desse esforço. Temos declarações favoráveis da Grã-Bretanha e da Alemanha, através do primeiro-ministro Gordon Brown e da chanceler Angela Merkel.

Amorim lembrou que Merkel se comprometeu com Lula a atuar na esfera européia, mas que o assunto pertence ao âmbito da União Européia. O ministro disse que a Lula fará novas viagens ano que vem:

- O presidente Lula visitará a Palestina. O presidente Abbas (da Autoridade Palestina) pediu que o Brasil participe do esforço de paz no Oriente Médio.

No encontro com o presidente francês, Nicholas Sarkozy, Lula manifestou apoio à candidatura francesa à presidência do FMI, para eleger Dominique Strauss-Kan, ex-ministro da Economia da França no governo Lionel Jospin.