Título: Revolta na base adia nova votação da CPMF
Autor: Jungblut, Cristiane e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 26/09/2007, O País, p. 8
Planalto cede e garante nomeações ao PMDB, mas não a tempo de obter quórum da base no plenário da Câmara.
BRASÍLIA. Por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo cedeu ontem para conter a rebelião no PMDB, causada pelas nomeações de dois petistas para a Petrobras e a BR Distribuidora. Mesmo assim, não conseguiu conter a rebelião a tempo e teve que adiar para hoje a retomada do processo de votação da prorrogação da CPMF até 2011, com alíquota de 0,38%.
O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), foram chamados ao Palácio do Planalto para uma reunião e saíram de lá com a garantia de que as nomeações do partido serão realizadas em breve. O PMDB garantiu, segundo integrantes da cúpula, a nomeação para a diretoria Internacional da Petrobras, que era sua principal reivindicação.
O governo, porém, não conseguiu pacificar os aliados a tempo de garantir a presença maciça da base em plenário. Também não teve estratégia para enfrentar o excesso de emendas e destaques apresentados pela oposição. Além de ceder à pressão do PMDB, mais uma vez, o governo fracassou ao não conseguir retomar a votação. Isso complica ainda mais a situação, já que há uma corrida contra o tempo para aprovar a CPMF na Câmara e no Senado até 31 de dezembro. O governo espera arrecadar R$39 bilhões em 2008.
- Não votamos porque não dava para abrir a votação de 36 itens com parte da base nervosa e sem um entendimento com a oposição sobre as emendas e os destaques - resumiu o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS).
PMDB ganhou vaga de petista
O PMDB foi chamado no início da tarde ao Planalto para um encontro com o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, que recebera sinal verde de Lula para assegurar ao partido suas nomeações, a serem efetivadas após o fim da votação da CPMF, para não parecer barganha política. Segundo um participante da conversa, ficou acertado que o PMDB vai nomear José Augusto Fernandes para a diretoria Internacional da Petrobras, hoje ocupada por Nestor Cerveró, do PT.
A insatisfação da base, em especial do PMDB, ocorreu devido à manobra da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de garantir a imediata nomeação de Maria das Graças Foster para a diretoria de Gás e Energia da Petrobras e de José Eduardo Dutra para a presidência da BR Distribuidora. O acerto com os partidos era esperar a votação da CPMF para efetivar nomeações.
- O problema é que queríamos saber por que tudo aquilo que não foi feito para os outros partidos foi feito para o PT. O ministro Walfrido nos disse que estava dando uma explicação em nome do presidente Lula e da ministra Dilma -- disse o líder Henrique Eduardo Alves, afirmando ter ficado satisfeito.
- As nomeações começarão muito rapidamente. O ministro reiterou que o governo começou as nomeações que queria fazer e que, portanto, irá prosseguir nas nomeações dos outros casos - acrescentou Temer.
O líder do governo na Câmara, José Múcio (PTB-PE), disse que o mal-estar estava "totalmente superado" e adotou o discurso oficial de que a votação foi adiada devido ao número excessivo de emendas e destaques. Ao todo, são 26 emendas e dez destaques, mas o governo quer usar argumentos jurídicos para reduzi-los até a manhã de hoje.
- Perdemos um dia de votação. Na verdade, metade da semana. Temos que rediscutir essa questão de emendas e destaques, porque, senão, levaremos dois, três meses para votar isso - disse o líder do PSB na Câmara, Márcio França (SP).