Título: Bird: condições para fazer negócios no Brasil pioraram em 12 meses
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 26/09/2007, Economia, p. 26

País caiu do 121º para o 122º lugar em ranking anual de 178 países.

WASHINGTON. O Brasil deu um passo para trás, nos últimos 12 meses, em relação às reformas de regulamentações que facilitem os negócios - como a abertura de empresas, o registro de propriedades, a obtenção de crédito e o pagamento de impostos. O país caiu do 121º para o 122º lugar na classificação anual que abrange 178 países, e continuou perdendo terreno para os outros quatro emergentes de grande porte que fazem parte do grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), segundo o estudo "Fazendo Negócios 2008", divulgado ontem pela Corporação Financeira Internacional (CFI), agência do Banco Mundial que lida com o setor privado.

Num dos quesitos das dez categorias que fazem parte do critério de avaliação, o Brasil chegou a ser classificado como o pior do mundo: o que se refere ao pagamento de impostos. Trata-se da verificação do tempo gasto por uma empresa com cálculos e toda a burocracia oficial até chegar à cifra que deve pagar. No Brasil, as firmas gastam, em média, 2.600 horas por ano com isso.

- O problema do Brasil é a inércia. Há uma tendência generalizada em deixar as coisas como estão - disse a economista Rita Ramalho, co-autora do informe da CFI.

Co-autora do estudo diz que reformas são imprescindíveis

E isso, segundo ela, é agravado pelo fato de a economia brasileira vir tendo um bom desempenho: - O bom comportamento da economia atrasa as reformas no Brasil. O argumento básico é o seguinte: se está tudo bem, por que fazer reformas? A nossa resposta é: a situação poderia ser muito melhor se as reformas fossem feitas, pois haveria mais criação de empresas e de empregos, o que reduziria a desigualdade social e a pobreza. Esperamos que o Brasil acorde para isso, e perceba que está perdendo competitividade.

Outra co-autora do estudo, Sylvia Solf, especialista em desenvolvimento do setor privado da CFI, reforçou:

- É preciso considerar uma questão irreversível: a longo prazo não há outra opção a não ser realizar as reformas, pois o nível de competitividade aumenta cada dia mais. E só levará vantagem quem facilitar a realização de negócios.

A América Latina e o Caribe estão ficando atrás das demais regiões no ritmo das reformas. Essa foi a área que menos avançou nesse setor no mundo:

- É impressionante como os países latino-americanos perderam competitividade no ano passado - disse Simeon Djankov, economista-chefe da CFI, que coordenou a pesquisa.

China subiu dez posições na classificação

A Colômbia foi o país da região que mais se destacou: deu um salto de 13 pontos na classificação, subindo para o 66º lugar. Já a Venezuela apresentou a maior queda: caiu oito pontos, ficando em 172º lugar. A Argentina também caiu oito posições: de 101º para 109º.

Segundo Sylvia Solf, um episódio ilustra bem a situação do país vizinho:

- O governo argentino reclama que a maioria não quer pagar impostos. Pudera: se todos pagassem os impostos cobrados, que são demasiados, teriam de usar em média o equivalente a 122% de sua renda só para isso. Quer dizer: os impostos são maiores que o próprio faturamento das empresas do país.

Cingapura aparece, pelo segundo ano consecutivo, como o país onde é mais fácil fazer negócios, seguida de Nova Zelândia e Estados Unidos, que também mantiveram suas posições. Dos Brics, a Índia foi quem teve melhor desempenho, passando do 134º lugar para o 120º. A China também melhorou, indo do 93º para o 83º lugar. A África do Sul, que era a 29ª, caiu para 35ª, e a Rússia desceu de 96º para 106º.