Título: PT, de olho no cargo de Mares Guia no Ministério, cobra investigação
Autor: Camarotti, Gerson e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 27/09/2007, O País, p. 4

Porta-voz diz, porém, que o petebista tem a confiança do presidente Lula.

BRASÍLIA. No momento de maior fragilidade política do ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, causou desconforto no Palácio do Planalto a divulgação, ontem, de uma nota no site oficial do PT informando que, no dia anterior, a executiva nacional do partido havia decidido apoiar a decisão do congresso nacional petista de pedir agilidade ao Ministério Público Federal na apuração do chamado valerioduto mineiro. O ex-líder do PT e atual vice-líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS), é um dos nomes do PT para a vaga do petebista em caso de seu afastamento.

O porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach, disse que Mares Guia tem a confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que a situação do ministro no governo não mudou depois da divulgação do relatório da Polícia Federal vinculando-o ao caso. Mares Guia pode ser denunciado pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, nos próximos dias. Segundo Baumbach, o ministro conversou ontem sobre o assunto com Lula e participou da reunião de coordenação de governo.

- O ministro tem a confiança do presidente, da mesma forma que tinha antes. Então, no que diz respeito ao presidente, a situação do ministro não se modificou - disse o porta-voz.

Candidatura precoce de petista indicaria fritura

Na avaliação de aliados de Mares Guia, o PT está ajudando a fritar indiretamente o ministro responsável pela articulação política. Para esse grupo, a postura do PT para derrubá-lo ficou evidente quando foi lançada a candidatura precoce de Fontana. Na nota, a executiva reafirmou "o projeto de resolução aprovado pelo 3º Congresso que pede à Procuradoria Geral da República agilidade na instauração das ações relativas ao uso de caixa dois e de dinheiro público na campanha do tucano Eduardo Azeredo à reeleição do governo de Minas Gerais, em 1998".

Rosário: "O problema é do presidente Lula, não do PT"

Para a vice-presidente do PT, deputada Maria do Rosário (RS), o partido é independente do governo e tem autonomia em relação ao Palácio do Planalto.

- O PT tem que cumprir o seu papel de exigir a verdade dos fatos. O problema do ministro é do governo e do presidente Lula. Não é um problema do PT. Esse pedido de investigação não é contra o ministro - disse.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini (PT-SP), negou que o objetivo da decisão da executiva seja atingir o ministro para que o partido assuma a articulação política do Planalto. Para Berzoini, não é "contraditório" o partido querer acelerar as investigações sobre o chamado "valerioduto mineiro", mesmo que isso atinja um ministro de Lula:

- Nossa relação com o Walfrido é tranqüila. Não misturamos um assunto com outro. Até porque a participação de Walfrido na campanha é secundária. Não é nada contra ele, até porque o ministro afirma que não cometeu nenhuma ilegalidade.

Já o líder do PT na Câmara, Luiz Sérgio (RJ), disse que o erro foi do PSDB. Para ele, a imprensa estaria focalizando o problema apenas em Mares Guia por ele ser do governo Lula. Luiz Sérgio admite, no entanto, que a situação de Mares Guia ficará fragilizada se ele for denunciado pelo Ministério Público:

- O PT rejeita a expressão mensalão mineiro; é o mensalão do PSDB. Se houve agilidade no caso que envolvia o PT e o governo, achamos que com relação ao PSDB está meio lento. Esse é um processo do PSDB que não pode se resumir à questão do ministro Mares Guia, porque ele é do governo Lula.