Título: Governo: mais casos são investigados
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 27/09/2007, O País, p. 10

Tendência de queda vem desde 2002, quando país teve nota 4 e ficou em 45º.

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Governo e oposição têm visões diferentes sobre a situação do Brasil, que aparece na 72ª colocação na lista anual do índice de percepção da corrupção, que inclui 180 países, divulgada pela Transparência Internacional (TI). O índice vai de 10, para os países considerados menos corruptos, a zero, para os que estão em pior situação. No caso do Brasil, a nota foi 3,5, apesar de ter oscilado positivamente em relação à ultima pesquisa (3,3).

Para os governistas, isso ocorre porque as autoridades brasileiras estão mais rigorosas no combate à corrupção, o que aumentaria o número de casos investigados. Já a oposição diz desconfiar que a situação do Brasil é ainda pior.

Para o vice-líder do governo, Beto Albuquerque (PSB-RS), o Brasil é um dos países que mais enfrentam a corrupção:

- Significa que este câncer está sendo combatido ferozmente nos últimos anos, graças à atuação da imprensa, da Justiça e das polícias. Quem imaginaria que, em quatro anos, a Polícia Federal iria realizar 400 operações contra corruptos, que terminaram com prisões de políticos, empresários e policiais? - diz Albuquerque.

Para o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), quanto maior a democracia, menor a corrupção:

- Até porque a corrupção é como fungo: só dá no escuro!

"Nota é até um pouco generosa", diz Chico Alencar

Já o vice-líder do DEM, deputado José Carlos Aleluia (BA), diz que a Transparência não enxerga que a corrupção é bem pior do que é divulgado.

- O TCU aponta irregularidade em 30% das obras públicas. Esse índice já mostra uma epidemia de corrupção nas obras públicas brasileiras - disse.

O líder do PSOL, deputado Chico Alencar (RJ), também diz achar que a posição do Brasil foi subestimada:

- Acho que a nota da Transparência é até um pouco generosa. Estamos reprovados em matéria de ética pública. Mas sempre há a possibilidade de recuperação. Para isso, o primeiro passo é reconhecer a nossa desgraça. Apesar da maior visibilidade das investigações, a corrupção continua em alta.

Para o cientista político Bruno Speck, da Transparência Internacional, a oscilação positiva da nota do país - apesar de estar na margem de erro - interrompe uma tendência de queda da pontuação brasileira iniciada em 2002, quando o país teve nota 4 e ocupava a 45ª colocação.

Segundo Speck, fatos negativos como a absolvição dos mensaleiros na Câmara e o envolvimento de policiais com o crime organizado pesam na avaliação. A ação da Controladoria Geral da União (CGU) e as operações da Polícia Federal são apontadas como motivos para a leve melhora da nota.

- As ações da PF, que passou a investigar e prender também pessoas do meio político, e a atuação eficaz da CGU nos municípios são, sem dúvida, fatores positivos - afirmou.

Para Speck, a única forma de o Brasil subir no ranking da Transparência é adotar políticas específicas de combate à corrupção em todos os poderes e níveis administrativos. (Gerson Camarotti, Evandro Éboli e Ricardo Galhardo)