Título: Plano ambiental prevê parceria com setor privado
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 27/09/2007, O País, p. 12

Entre os destaques do projeto anunciado por Lula na ONU está ainda adoção de medidas para diminuir desmatamento.

BRASÍLIA. Em fase de gestação dentro do governo, o Plano de Ação Nacional de Enfrentamentos das Mudanças Climáticas, anunciado terça-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Nova York, durante a Assembléia Geral da ONU, terá como destaque a adoção de medidas concretas para reduzir o desmatamento e as queimadas. É justamente nesse ponto que o Brasil mais recebe ataques da comunidade internacional. A idéia é anunciar metas internas nessa área, numa tentativa de mostrar que o país faz o dever de casa.

Segundo o físico Luiz Pinguelli Rosa, diretor-geral da Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia (Coppe) da UFRJ e secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, o fórum apresentou proposta para o plano de ação do governo, que já está nas mãos de Lula.

O material prevê uma série de procedimentos a serem adotados por governo federal, estados e o setor privado, e serve de subsídio para a elaboração do plano de ação. Entre outras medidas, destacam-se a vinculação obrigatória da aferição dos níveis de emissões veiculares ao licenciamento anual dos automóveis - prevista no Código de Trânsito Brasileiro, mas realizada apenas no Rio - e o fomento à expansão do transporte coletivo (à exceção do rodoviário).

O documento será apresentado em dezembro aos representantes dos países que participarão da Conferência de Bali, na Indonésia. A reunião dará início a um amplo processo de negociação para um novo acordo global que deverá substituir o Protocolo de Kyoto - que fixou metas de redução das emissões de gases que provocam efeito estufa para nações industrializadas, à exceção dos Estados Unidos, que não ratificaram o tratado.

- O ponto fraco do Brasil é o desmatamento. Por isso, o país precisa fixar metas imediatas de redução, de preferência até o fim do ano - disse Pinguelli Rosa.

Desmatamento cai na Amazônia, mas sobe em MT

A questão do desmatamento e das queimadas é delicada e difícil de resolver, avaliam autoridades ambientais brasileiras. Se por um lado o desflorestamento vem caindo na Amazônia, em Mato Grosso houve um aumento de 200% em 2007 em relação ao ano passado. Especialistas afirmam que a principal causa é o cultivo desenfreado da soja.

Para Juliana Ramalho, professora de Climatologia da Universidade de Brasília (UnB), apesar do sucesso internacional do Brasil na produção de combustíveis renováveis, como o etanol, é preciso ter cuidado com a ocupação desordenada das terras no cultivo da cana-de-açúcar.

- O cultivo do etanol não é totalmente limpo, devido à grande quantidade de queimadas para a colheita. Além disso, é preciso levar em conta outras culturas importantes para o país - disse.

Previsão é de variação de temperatura de até 5,8 graus

Além da publicidade internacional que Lula quer dar aos movimentos do país para enfrentar o aquecimento global e evitar a expansão das emissões de gases de efeito estufa, existe uma realidade da qual não se pode fugir: estudos científicos mais recentes alertam para um século XXI de inúmeras transformações - enchentes, secas, furacões, derretimento de geleiras, epidemias, destruição de lavouras.

Os últimos relatórios mostram que, até o ano de 2100, mesmo que fosse possível eliminar totalmente daqui para frente a emissão de gases que intensificam o efeito estufa, só o que já está acumulado poderá trazer uma variação entre 1,4 e 5,8 graus na temperatura da Terra. Os desastres viriam em efeito dominó: milhões de pessoas expulsas de seus lugares de origem e uma crise sem precedentes na economia mundial.