Título: Inflação faz BC reduzir projeção da relação entre dívida e PIB em 2007
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 27/09/2007, Economia, p. 26

Indicador cai para 43,1% em agosto, atingindo menor patamar desde 98.

BRASÍLIA. O recente aumento da inflação levou o Banco Central (BC) a revisar para baixo sua estimativa para o comportamento da relação entre dívida pública e Produto Interno Bruto (PIB) em 2007. Importante indicador de solvência do país, observado pelo mercado e pelas agências de classificação de risco, a relação dívida/PIB deverá encerrar o ano em 44%, contra previsão anterior de 44,5%. Isso representa mais fôlego para o Brasil honrar compromissos. Em agosto, o indicador ficou em 43,1%, o menor patamar desde os 38,9% de dezembro de 1998.

Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, a revisão ocorreu devido ao aumento da expectativa para o IGP-DI no período, de 4,2% para 5,24% (dados de mercado), índice usado para deflacionar o estoque da dívida. A expansão econômica acelerada - 5,4% no segundo trimestre - também foi considerada.

- É um movimento expressivo - resumiu Lopes.

No ano, economia para pagar juros é recorde: R$87,6 bi

Especialistas afirmam que reduzir a projeção da relação dívida/PIB apenas devido a uma inflação maior não é bom sinal. Primeiro, porque a variação maior de preços não é uma boa notícia. Segundo, porque não é uma política que possa ser perseguida. Mas eles apontam que outros indicadores mostram um cenário favorável à queda da relação dívida/PIB. Os principais são o crescimento da economia a um ritmo maior que o do endividamento e a obtenção de superávits primários.

- A trajetória da relação dívida/PIB é de queda, isso é importante - disse o estrategista do BNP Paribas Alexandre Lintz.

Em agosto, segundo o BC, a subida do dólar também ajudou a reduzir a relação dívida/PIB - que passou de 44% para 43,1% e atingiu R$1,096 trilhão - uma vez que 22% desse passivo estão atrelados à moeda americana. Em setembro, porém, o movimento se inverteu, por causa da recuperação do real. De acordo com Lopes, o número fechado do mês deverá ser de 43,9%.

O superávit primário também contribui para a redução do endividamento. Em agosto, a economia feita pelo setor público (incluídas as estatais) para pagamento de juros ficou em R$8,091 bilhões, pouco acima do resultado de julho (R$7,094 bilhões), mas 39% inferior ao de agosto de 2006. No ano, o superávit acumula R$87,669 bilhões - recorde para o período - e representa 4,12% do PIB em 12 meses, acima da meta de 2007, de 3,80%. No mês anterior, a relação estava em 4,35%.

Para Lopes, é praticamente certo o cumprimento da meta. Ele cogitou até que se supere o objetivo, para algo "entre 4% e 4,1%, com tendência de queda".

O superávit do mês passado foi puxado pelas estatais, com saldo de R$2,244 bilhões, contra R$728 milhões em julho. Estados e municípios tiveram superávit de R$2,401 bilhões, quase R$200 milhões a mais do que em julho, e bem acima dos R$832 milhões de igual período de 2006.

Para o fim do ano, no entanto, Lopes adianta que os gastos públicos vão aumentar, com o pagamento do 13º salário dos servidores. O governo central (BC, INSS e governo federal) teve superávit de US$3,446 bilhões no mês passado, 52% menos do que em agosto de 2006.