Título: Alvo do PMDB é o setor elétrico
Autor: Damé, Luiza e Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 28/09/2007, O País, p. 3

Partido exige atendimento rápido a pedidos de cargos em estatais da área, Funai e BNB.

BRASÍLIA. Antes mesmo de concluir a votação da prorrogação da cobrança da CPMF na Câmara, o governo acusou o golpe e foi obrigado a abrir o balcão de negociações com a bancada do PMDB no Senado. O Palácio do Planalto entendeu o recado dado anteontem pelo partido, que comandou a derrubada da medida provisória que deixou sem emprego o ministro da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, Mangabeira Unger, e extinguiu mais de 600 cargos. Além de esperar a volta da solidariedade do PT ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a bancada peemedebista não quer pouco. Exige soluções imediatas para algumas demandas, entendidas explicitamente como cargos de direção na Eletrobrás, na Eletronorte, no BNB e até na Funai, além da retomada do comando do Ministério das Minas e Energia.

Na mira do partido estariam de nove a dez cargos federais de peso no setor elétrico. Por trás das indicações estão o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) - principal conselheiro de Renan Calheiros, que comandou a operação -, os senadores José Sarney (PMDB-AP); Roseana Sarney (PMDB-MA), líder do governo no Congresso; Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado; e outros senadores do Norte e Nordeste.

Logo cedo, Jucá foi chamado para uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para fazer uma avaliação da derrota imposta pelo PMDB ao governo no Senado. Jucá admitiu, na volta ao Congresso, as dificuldades que o governo terá para aprovar a CPMF na Casa:

- O governo vai ter de suar a camisa para aprovar aqui a CPMF. Não temos maioria nem um prazo longo para votar. Hoje temos, a favor da prorrogação, de 43 a 44 votos, mas precisamos de 49.

O líder do PMDB, Valdir Raupp (RO), recusou um convite para almoçar com o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, com a desculpa de que iria ao dentista. Nos bastidores, o que rebeldes do partido diziam era que Raupp esperava ter sido recebido por Lula ou pelo menos a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que estava viajando. Ele deixou transparecer, porém, o incômodo da bancada com a pressão dos senadores Aloizio Mercadante (PT-SP) e Tião Viana (PT-AC) pelo afastamento de Renan do comando do Senado:

- Se é um governo de coalizão, a base tem de trabalhar sintonizada - advertiu.

Essa, no entanto, seria apenas a ponta do iceberg. A lista de reclamações dos peemedebistas - exposta durante um jantar na terça-feira à noite na casa do senador Valter Pereira (PMDB-MS), que deflagrou a rebelião com seu parecer contrário à aprovação da MP 377 na quarta-feira - inclui, por exemplo, uma compensação pela demissão de um diretor do Banco do Nordeste (BNB), que havia sido indicado pelo senador José Maranhão (PMDB-PB). Entre as queixas estaria ainda a falta de resposta para um pedido de Valter Pereira de um cargo na Funai.

As maiores insatisfações, porém, seriam com a constatação de que a ministra Dilma teria tomado posse definitiva da área energética e elétrica. Os senadores peemedebistas queriam inicialmente a nomeação do técnico Márcio Zimmermann para substituir Silas Rondeau no Ministério de Minas e Energia, afastado em meio a Operação Navalha, da Polícia Federal. Sarney chegou a avalizar a mudança. Mas a chefe da Casa Civil conseguiu pôr interinamente no cargo Nelson Hubner. Com isso, todas nomeações do setor elétrico, inclusive os comandos de Eletrobrás, Eletronorte e Eletrosul, ficaram indefinidos e sob a influência de Dilma.

Ninguém assume publicamente que esteja atrás de cargos. Mas alguns fazem questão de lembrar o peso da bancada peemedebista no resultado final de qualquer votação.

- O grupo do PMDB mostrou que decide. Se alguém precisar da gente, vai ter de falar antes com o Raupp - avisou Wellington Salgado (PMDB-MG), suplente do ministro das Comunicações, Hélio Costa.

Jader estaria irritado por não nomear o primo para diretoria da Eletronorte

Jader é outro que estaria irritado com a indefinição do setor elétrico, já que não conseguiu indicar o primo e ex-deputado José Priante para uma diretoria da Eletronorte. Com isso, ele não compareceu a votação da CPMF na noite de quarta-feira, mesmo com o pedido do líder da bancada, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

Principal representante da ala oposicionista do PMDB, o senador Jarbas Vasconcelos (PE) admitiu que a derrota imposta pelo Senado ao governo na última quarta-feira deverá ajudar a elevar o preço das negociações com o partido.

- Ajudamos a engordar a conta do PMDB, que já era gulosa. A gordura cresceu pelo menos uns quatro centímetros - previu.

Para Tião Viana, o PT pouco pode fazer para tentar reverter a derrota do governo diante da posição assumida pelo PMDB. E alfinetou:

- O PMDB é profissional, faz política assim.

- O Senado, com a situação que vive, virou terreno fértil para crises. O governo terá de dialogar muito para aprovar a CPMF. Aqui, os nervos estão a flor da pele - advertiu o líder do PSB, Renato Casagrande (ES).