Título: Eu faço acordo com partido
Autor: Damé, Luiza e Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 28/09/2007, O País, p. 3

REBELIÃO NA BASE

Lula diz que vai recriar secretaria e que não barganha, mas negocia com o PMDB.

Mesmo após a derrota no Senado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que vai recriar a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, mas deixou o ministro Mangabeira Unger e toda a sua equipe na expectativa. Lula afirmou que só na segunda-feira, depois de viagens ao Rio e a São Paulo, decidirá como recriar o órgão, cuja missão é planejar o futuro do país. Depois da rebelião no PMDB do Senado por cargos, o presidente disse que não fará barganha, mas passou o dia ontem negociando com os líderes do partido.

Ontem mesmo Lula começou a negociar com a cúpula peemedebista uma lista de pleitos que inclui nomeações e liberações de emendas, nos moldes do que aconteceu na Câmara. De manhã, Lula se reuniu com o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e com o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, para analisar a situação.

Depois, os dois, sem Lula, almoçaram com líderes do PMDB: a líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA), o presidente do partido, Michel Temer, o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e os ministros das Comunicações, Hélio Costa, e da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. Do encontro, saiu a certeza de que o governo precisa ouvir mais - e atender - os senadores do PMDB, que cobram nomeações e liberações de emendas.

Embora o PMDB tenha liderado a rejeição da medida provisória, Lula negou que o partido tenha feito qualquer pedido ao governo para aprovar outras propostas:

- O PMDB não pediu nada. Eu não barganho. Eu faço acordo programático, eu faço acordo com partido, mas não é possível você ficar barganhando cada votação que vai para o Congresso. Quero dizer que o Senado não pediu nenhum cargo, não existe nenhuma reivindicação.

Para Lula, a rebelião do PMDB - motivada pela distribuição de cargos na Petrobras, que privilegiou o PT, e pela falta de solidariedade dos petistas ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) - não vai se refletir na votação da CPMF no Senado. Lula afirmou que os senadores terão responsabilidade no momento de votar, pois a proposta não é de seu interesse pessoal, mas do país.

"O dado concreto é que vamos ter o ministério"

O presidente afirmou ainda que a opinião pública está atenta aos que trabalham pelo país e, no momento certo, julgará todos:

- Foi difícil chegar onde chegamos, e não vai ser qualquer vento mais forte na Câmara ou no Senado ou em qualquer outro lugar que vai me fazer perder a tranqüilidade.

Para desanuviar o ambiente, Jucá afirmou que o governo não encarou a rebelião do PMDB como traição.

- A votação de ontem (anteontem) foi apenas uma demonstração de insatisfação. A manifestação é legítima e cabe ao governo acatar - declarou Jucá, que disse que Lula havia recebido com "tranqüilidade" a notícia.

O presidente disse que não vai desistir da idéia de criar a secretaria. Mas não mostrou pressa.

- Eu vou ao Rio de Janeiro e a São Paulo e, na segunda-feira, tomarei a decisão. O dado concreto é que vamos ter o ministério, porque nós precisamos - disse Lula.

Depois de se despedir do presidente do Casaquistão, Nursultan Nazarbayev, Lula procurou encarar com naturalidade a estrondosa derrota no Senado, liderada pelo PMDB, maior partido da base aliada. Por 46 a 22, os senadores derrubaram a medida provisória que criou a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo e cerca de outros 600 cargos. Para Lula, perder uma votação no Congresso faz parte da democracia.

- Na democracia, você ganha uma, você perde outra, você ganha duas, você perde duas. Acho que não havia motivo para que o Senado derrubasse a medida provisória que criava a secretaria especial - afirmou. - Estou muito tranqüilo. Encaro isso com naturalidade.

Romero Jucá lamentou que a insatisfação do PMDB tenha se manifestado na rejeição de uma matéria de interesse do governo.

- Foi uma surpresa. Não estávamos informados dessa insatisfação. Lamentamos que a manifestação tenha sido dessa forma, pois estamos num governo de coalizão. Existem outros caminhos para afinar essa conversa.

Aliado do presidente do Senado, Jucá negou que Renan Calheiros (PMDB-AL) tivesse participado ativamente da rebelião do PMDB para derrubar a MP:

- Renan não jogou junto com os rebelados. Renan votou todas as matérias de interesse do governo. Não houve influência do presidente Renan Calheiros.