Título: Ministros batem boca em sessão do Supremo
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 28/09/2007, O País, p. 11

Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes discutem sobre quem teria condições de dar "lição de moral" no outro.

BRASÍLIA. Um bate-boca acalorado, surpreendente no ambiente sisudo do Supremo Tribunal Federal (STF), aumentou a temperatura da sessão de ontem da mais alta Corte do país. Os protagonistas foram dois ministros reconhecidos pelo forte temperamento: Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes. O tema da discussão versou sobre quem teria mais condições de dar "lição de moral" no outro.

Tudo começou quando Gilmar propôs votar novamente, com a presença dos 11 ministros do tribunal, uma questão já decidida na semana passada, quando o ministro Eros Grau estava ausente por motivos de saúde. Relator do caso, Barbosa disse que ele deveria ter sido consultado previamente sobre a idéia, antes de a sessão ter início. Em tom autoritário, disse que a discussão já tinha sido encerrada. Foi a senha para o início da confusão.

- Ministro Gilmar, me perdoe a palavra, mas isso é jeitinho. Nós temos que acabar com isso - disse Barbosa.

- Eu não vou responder a Vossa Excelência. Vossa Excelência não pode pensar que pode dar lição de moral aqui - respondeu Gilmar.

- Eu não quero dar lição de moral - revidou Barbosa.

- Vossa Excelência não tem condições - replicou Gilmar.

- E Vossa Excelência tem? - questionou, por fim, Joaquim Barbosa.

O clima bélico foi interrompido em seguida pelo ministro Ricardo Lewandowski, que pediu mais tempo para analisar a questão. Não é a primeira vez que as desavenças ideológicas entre os ministros do STF descambam para o lado pessoal. Um dos momentos mais tensos foram vividos na sessão do dia 20 de outubro de 2004, quando Marco Aurélio Mello e Joaquim Barbosa discordaram de uma questão jurídica. Ao fim da sessão, Marco Aurélio propôs que a discussão fosse resolvida do lado de fora do tribunal. E chegou a mencionar a realização de um duelo nos moldes medievais.

Em março deste ano, Gilmar Mendes chamou procuradores do Ministério Público de oportunistas, por fazer uso supostamente político de ações de improbidade administrativa. A crítica foi feita em plenário. Em maio, criticou a ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele disse que os decretos de prisão escritos pela ministra contra integrantes da Operação Navalha estavam mal fundamentados. No mês seguinte, comparou a Polícia Federal à Gestapo, a polícia da Alemanha nazista.