Título: Banco Central eleva previsão de inflação em 2007 de 3,5% para 4%
Autor: Duarte, Patricia
Fonte: O Globo, 28/09/2007, Economia, p. 30

Segundo analistas, corte de juros fica mais difícil ou até inviável este ano.

BRASÍLIA. O Banco Central (BC) elevou em 0,5 ponto percentual a previsão de inflação este ano, para 4%, e ajustou de 4,1% para 4,2% a projeção de 2008, ambas próximas do centro da meta (4,5% pelo IPCA), segundo relatório trimestral divulgado ontem. A autoridade monetária foi categórica ao afirmar que o crescimento se manterá vigoroso e sustentado a longo prazo, puxado pela demanda doméstica, inclusive com elevação de gastos públicos. Ponderou que as importações atendem a parte da demanda e que os investimentos para ampliar a oferta estão em alta. Mas alertou que a variação de preços se espalha para além dos alimentos, e o cenário externo se mantém incerto. Conclusão: os analistas se dividiram sobre os rumos da Taxa Selic em 2007.

Alguns acreditam que há espaço para mais um corte de 0,25 ponto em outubro, para 11% ao ano, embora admitam que essa aposta já foi mais factível. Outros acham que o documento decreta o fim do ciclo de política monetária expansiva, iniciado em setembro de 2005, que só seria retomado no próximo ano.

O repique inflacionário, puxado por alimentos, foi classificado pelo BC como "surpresa". A autoridade monetária, porém, afirmou que a variação se acelera não mais apenas nesse núcleo, mas em outros segmentos, como o de serviços. Para a economista-chefe do ABN Amro Zeina Latif, é um sinal de alerta, por isso considera que o BC não vai mais cortar os juros este ano.

Diretor do BC: capacidade instalada deve ser observada

O diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, afirmou, no entanto, que a crise oriunda dos EUA não chegou a afetar os preços internos (pois o dólar não disparou) e, num cenário menos provável de piora dos mercados externos, os preços das commodities agrícolas poderiam até recuar.

Mas a dúvida é se isso basta para compensar a forte expansão do consumo doméstico, que pode gerar inflação. O BC manteve em 4,7% o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2007. Mas alterou sua composição. Revisou a expansão agropecuária, de 7% para 4,5%. Para a indústria, elevou de 4,4% para 4,6%. E, para serviços, manteve em 4,3%. Do lado da demanda, prevê maior consumo do governo (3,6%, contra 2,9%) e mais investimentos, cujas estimativas saltaram de 8,5% para 9,6%. Mesquita, do BC, minimizou a previsão de expansão fiscal:

- Isso representa apenas 0,7 ponto percentual do PIB.

Mesquita disse que os investimentos estão sendo suficientes para garantir a oferta, mas reconheceu que o uso da capacidade instalada - na casa dos 80% - tem de ser observado.

- A atitude mais serena seria o Copom parar de cortar os juros agora. Mas, com o relatório, eu não descarto mais um corte - afirmou o economista-chefe da Unibanco Asset Management, Alexandre Mathias.

- Existe boa chance de parar de cortar, mas o cenário externo melhorou e tem uma chance um pouquinho maior de o BC cortar a Selic em outubro - disse o economista-chefe do Banco Schahin, Sílvio Campos Neto.