Título: Fritura à Meirelles
Autor: Nunes, Vicente; Simão, Edna
Fonte: Correio Braziliense, 09/04/2009, Economia, p. 16

Antonio Francisco de Lima Neto soube de sua demissão da presidência do Banco do Brasil na noite de terça-feira ¿ ele tinha uma entrevista coletiva marcada para o dia seguinte na sede do Ministério da Fazenda. E, a amigos mais próximos, não teve dúvidas em atribuir a sua queda ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Na avaliação de Lima Neto, tudo começou com a estratégia de Meirelles de tirar o foco de pressão para a queda dos juros de cima do BC, que, em dezembro de 2008, já com a economia do país solapada pela crise, decidiu manter a taxa básica (Selic) em 13,75% ao ano.

O presidente do BC preparou um estudo sobre o spread bancário no país, argumentando que de nada adiantava a Selic cair se a diferença entre o que os bancos pagam aos investidores e o que cobram nos empréstimos continuasse elevada. Para sustentar a tese apresentada ao presidente Lula, Meirelles destacou que a alta do spread havia sido comandada pelos bancos públicos, em especial pelo Banco do Brasil. Ao mesmo tempo, o BC passou a divulgar na internet um ranking dos juros cobrados de empresas e consumidores. O BB apareceu com taxas maiores do que o Citibank e outras instituições privadas.

Lima Neto argumentou que os modelos usados pelo BC tanto para o cálculo do spread quanto dos juros estavam equivocados. Mas não adiantou. O discurso de Meirelles já havia sido comprado por Lula, pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que nunca foi muito simpático ao presidente demitido do BB. Mantega via Lima Neto como homem de confiança de seus antecessor, Antonio Palocci. ¿Com esse quarteto, não havia como me manter no cargo, as pressões para a minha saída aumentaram muito¿, comentou Lima Neto, segundo relato de um amigo.

Para o presidente demitido do BB, cuja gestão foi marcada pela perda do posto de maior banco do país depois da fusão entre o Itaú e o Unibanco, o importante é que a instituição recuperou a confiança dos investidores e cresceu de forma sustentada por meio das aquisições do Banco de Santa Catarina (Besc), da Nossa Caixa e de metade do Votorantim. E deve avançar mais depois do fechamento da compra do Banco de Brasília (BRB) e do Banco do Espírito Santo (Banestes). Além disso, assegurou ele, está entregando o BB com taxas de juros bem menores do que a média do mercado. Lima Neto deve pedir demissão do BB e migrar para a iniciativa privada depois de sua quarentena prevista em lei. (VN, ES e DP)