Título: Oposição quer explicações
Autor: Nunes, Vicente; Simão, Edna
Fonte: Correio Braziliense, 09/04/2009, Economia, p. 16

DEM, PSDB e PPS querem que Mantega e Lima Neto sejam convocados a prestar esclarecimentos no Congresso.

Os partidos de oposição ¿ PSDB, DEM e PPS ¿ afirmaram ontem, por meio de nota, que não tem credibilidade a versão do governo sobre a demissão de Antonio Francisco Lima Neto da presidência do Banco do Brasil, ¿uma vez que não faz referência ao trabalho que estava sob responsabilidade do servidor¿. No comunicado, as três legendas lançam suspeitas sobre a ação do banco na edição da Medida Provisória 443 (que autoriza o BB e a Caixa a adquirirem carteiras de outros bancos) e anunciam que pedirão que o Congresso convoque o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e Lima Neto para prestarem esclarecimentos.

De acordo com a nota, com a MP 443 o governo ¿abriu a porta dos negócios sem transparência e, em decorrência, sem qualquer fiscalização nas duas instituições¿. Os três partidos consideram também que ¿não é bom¿ que os bancos públicos realizem negócios sem licitação com instituições financeiras. Além disso, consideram que regras ¿frouxas¿ para transações do Estado definidas pela MP 443 estão em desacordo com ¿a probidade administrativa, princípio da Constituição que busca garantir a isenção e a impessoalidade do Poder Executivo no trato com a coisa pública.¿

O presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), reiterou que o objetivo da convocação é fazer com que o ministro e ex-dirigente do BB esclareçam operações feitas pelo banco e que teriam motivado a troca de comando. ¿A desculpa do spread é ridícula. Soubemos que houve operação irregular. Queremos saber quais foram. Isso não exime o governo federal da responsabilidade do que ocorreu no Banco do Brasil. Quem nomeia o presidente do Banco do Brasil é o presidente Lula.¿

No PSDB, o presidente nacional da legenda, senador Sérgio Guerra (PE), afirmou que o ex-presidente do Banco do Brasil ¿efetivamente não terá caído por conta de taxas de juros.¿ A informação oficial é de que ele teria deixado o cargo a pedido.

Já o senador Renato Casagrande (PSB-ES) manifestou surpresa com a saída de Lima Neto do governo. ¿Não sabemos o motivo, mas não creio que seja essa questão da taxa de juros, porque, senão, aí teria que demitir os presidentes de outros bancos¿, comentou. Durante o anúncio da substituição, Guido Mantega afirmou não ter conhecimento de denúncia de irregularidade na aquisição de carteiras de outras instituições feitas pelo Banco do Brasil, durante a gestão de Lima Neto. A suspeita de irregularidades foi ventilada no Congresso, após a notícia de mudança na direção do banco. Lima Neto, que participou do anúncio da troca de comando, disse que essas aquisições foram pautadas pela boa prática bancária e que não há sinal amarelo nesse processo.

Apelo O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, sugeriu que as diferenças políticas sejam colocadas de lado no atual contexto de crise econômica mundial. ¿A disputa política tem que respeitar o momento da economia e o papel dos bancos públicos¿, avaliou ele após participar da reunião mensal do Grupo de Acompanhamento da Crise. Ele disse não ter conhecimento de questões políticas específicas que teriam sido motivo da dispensa de Lima Neto. O empresário lembrou que, por se tratar de uma empresa, o Banco do Brasil pode contratar e demitir funcionários de acordo com suas conveniências. O que cobramos são as políticas. Essa questão das pessoas não nos diz respeito, explicou.

Para Monteiro Neto, os bancos públicos têm que cumprir o papel de irrigar o crédito na sociedade por representarem cerca de 10% da oferta brasileira.