Título: Ações do BB caem com politização
Autor: Nunes, Vicente; Simão, Edna
Fonte: Correio Braziliense, 09/04/2009, Economia, p. 16

Mudança provoca instabilidade. Investidores vendem papéis da instituição financeira por temerem que ¿ousadia¿ cause prejuízo

-------------------------------------------------------------------------------- Vicente Nunes e Edna Simão Da equipe do Correio Edson Gês/CB/D.A Press - 8/9/08 Agência do BB: Interferência política pode comprometer desempenho A interferência do presidente Lula no Banco do Brasil, demitindo o presidente da instituição, Antonio Francisco de Lima Neto, sob o argumento de que ele não seguia a cartilha do governo para a redução mais forte dos juros, provocou nervosismo entre os investidores. Muitos venderam ações do BB, temerosos de que, com a ousadia exigida pelo governo na concessão de crédito, a instituição registre prejuízos, que, em última instância, serão cobertos pelos contribuintes. As ações do BB despencaram 8,15%, cotadas a R$ 17,35. Já os papéis do Bradesco subiram 0,63% e os do Itaú, recuaram 1,07%.

¿Infelizmente, essa interferência política mina a confiança em relação às ações das estatais. Da mesma forma como os papéis do BB desabaram, os da Petrobras sofreram (com queda de 0,30%), apesar de a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) ter fechado o dia em alta(0,82%)¿, disse o diretor da Top Trade Investimentos, Demétrius Borel Lucindo. Segundo ele, infelizmente, o histórico do BB não é dos melhores. Quebrado, teve de ser capitalizado pelo Tesouro Nacional nos anos 1990 e recebeu outra bolada em 2001. ¿Ninguém se esquece dessas coisas. Por isso, as ações do BB sempre registram desempenho inferior às de seus maiores concorrentes¿, acrescentou.

Para Eduardo Collor, analista da Ativa Corretora, a intervenção do governo no BB é equivocada, pois não há nenhuma garantia de que, com a instituição baixando juros, os bancos privados seguirão no mesmo caminho. ¿Se quer fazer política pública, o governo deveria usar a Caixa Econômica Federal, do qual tem 100% do capital. O governo tem a maior parte das ações do BB, mas precisa respeitar os acionistas minoritários, que injetaram dinheiro no banco¿, destacou. ¿Além disso, não se baixa juros por decreto¿, frisou.

Segundo o analista de bancos da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu, o governo deu vários instrumentos para que o BB crescesse nos últimos anos, como, por exemplo, pela compra de outros bancos. Mas, agora, está cobrando a fatura. ¿O presidente Lula está usando a força para reduzir os juros bancários. E o resultado será a queda dos lucros do BB¿, frisou. No entender de João Augusto Salles, analista da Lopes Filho & Associados, o aumento do spread bancário e dos juros a partir de setembro do ano passado foi reflexo do aumento da inadimplência por causa do desemprego maior. ¿Talvez, com a redução dos juros, o BB ganhe participação no mercado, mas será algo residual.¿ Já os sindicalistas elogiaram a demissão de Lima Neto do BB. E ressaltaram que a demissão da presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho, será ¿bem-vinda¿.