Título: Que sirva de exemplo
Autor: Nunes, Vicente; Simão, Edna
Fonte: Correio Braziliense, 09/04/2009, Economia, p. 16

Troca de comando no Banco do Brasil tem como objetivo indicar que o governo quer maior engajamento dos bancos públicos na oferta de crédito e no corte de juros ao consumidor.

Novo presidente do BB, Aldemir Bendine, ministro Mantega e Lima Neto: BB terá que ser ¿ousado¿ O presidente Lula demitiu ontem Antonio Francisco de Lima Neto da presidência do Banco do Brasil. A decisão, segundo o Palácio do Planalto, servirá de exemplo para os demais presidentes de bancos públicos, que devem se engajar no projeto do governo de ampliar a oferta de crédito e reduzir as taxas de juros cobradas de empresas e consumidores. Na avaliação do governo, o crédito será uma ferramenta fundamental para estimular os investimentos produtivos e a demanda das famílias, evitando que o país feche 2009 com retração do Produto Interno Bruto (PIB). Há dois anos à frente do BB, Lima Neto era visto como empecilho para uma maior ousadia da instituição.

Lima Neto, que ficará no cargo até o próximo dia 22 para uma ¿transição civilizada¿, será substituído por Aldemir Bendine, atual vice-presidente de Cartões e Novos Negócios de Varejo e conhecido como ¿Dida¿. Ele foi indicado pelo chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. Com isso, o PT ampliou seu espaço no controle do maior banco público do país, que, em 2008, registrou lucro líquido de R$ 8,8 bilhões, o maior de sua história.

Dois outros vices ligados ao PT, Adézio de Almeida Lima (Crédito, Controladoria e Risco Global) e Milton Luciano dos Santos (Varejo e Distribuição), foram cotados para a presidência. Eles são apadrinhados pelo presidente do partido do governo, o deputado federal Ricardo Berzoini (SP). O futuro presidente tomará posse em 23 de abril com a missão ¿ firmada em um contrato de gestão ¿ de ampliar a carteira de crédito do BB, que soma R$ 240 bilhões, muito além dos 20% prometidos por Lima Neto.

Para Lula, é fundamental que os bancos públicos reduzam o spread, diferença entre o que as instituições financeiras pagam aos investidores e o que cobram nos empréstimos e financiamentos. Ele acredita que, com o spread em baixa, os juros poderão cair, forçando as instituições privadas a seguirem na mesma direção. ¿A redução do spread bancário, neste momento, é uma obsessão minha. Nós precisamos fazer com que o spread bancário volte à normalidade no país¿, afirmou. Entre setembro e dezembro de 2008, auge da crise internacional, o spread médio cobrado de empresas e consumidores saltou de 26,4 para 30,7 pontos percentuais, elevando os juros dos empréstimos, já bastante escassos. Na época, o BB foi apontado pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (veja matéria nesta página) como um dos principais responsáveis por essa alta.

Tensão na Caixa O descontentamento do presidente com Lima Neto era enorme. Em várias reuniões com dirigentes de bancos públicos, Lula esmurrou a mesa e sempre focou suas críticas no BB pelo fato de os spreads e os juros não estarem caindo na velocidade desejada pelo governo. Lima Neto argumentava que, por ser um banco de capital aberto, com ações negociadas em bolsa, o BB tinha limitações para cortar suas taxas. Lembrava ainda que, desde novembro de 2008, o banco havia baixado os juros de várias operações por cinco vezes. E ressaltava que a instituição não poderia sair emprestando dinheiro sem critério, devido ao aumento do risco de calote com a crise mundial. Lula replicava que o BB poderia abrir mão de parte de seus ¿lucros extraordinários¿ em prol do país.

A contrariedade de Lula com Lima Neto foi expressada de forma clara pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, em conversa com sindicalistas logo depois da troca de comando no BB. ¿Não aguentamos mais presidentes de bancos públicos que acham que são presidentes de bancos privados¿, disse. Candidata à sucessão de Lula em 2010, Dilma precisa que a economia retome o fôlego o mais rapidamente possível. E isso, na visão dela, deve acontecer mesmo que seja preciso sacrificar os ganhos dos bancos públicos. As palavras de Dilma provocaram tensão, sobretudo na Caixa Econômica. Mas, a princípio, não há qualquer intenção de substituir Maria Fernanda Ramos Coelho da presidência da instituição. Fernanda é ligada ao PT.