Título: Apesar da redução nas taxas, Brasil ainda tem 14,4 milhões de analfabetos
Autor: Almeida, Cássia e Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 29/09/2007, O País, p. 13

Na América do Sul, situação do país só não é pior do que a da Bolívia.

RIO E RECIFE. A radiografia da distorção na educação brasileira mostra que o analfabetismo ainda assombra 10,4% da população. O número, menor do que em 1996, quando era de 22,9 milhões (14,6% da população), ainda está longe de garantir ao país uma boa posição na América Latina. Entre os países vizinhos, numa comparação com dados de 2005 feita pela Comissão Econômica para a América Latina e Caribe, o Brasil está em 20º lugar, num ranking de 28 países. Na América do Sul, o Brasil só não está pior do que a Bolívia.

Esse contingente de 14,4 milhões de analfabetos, quase a população do Estado do Rio, fez a Unesco incluir o Brasil num grupo prioritário para redução do analfabetismo, onde estão os países com mais de dez milhões de analfabetos. Nesse grupo, fazem companhia ao Brasil países como China, Índia, Paquistão e Etiópia.

Analfabetismo caiu, mas taxa ainda é alta

Apesar da queda no analfabetismo, a taxa ainda é considerada alta pelos pesquisadores do IBGE, que apontam razões para índices ainda elevados: a falta de vagas no pré-escolar, a repetência, a falta de escolas no meio rural e a evasão escolar.

Para Ana Lucia Saboia, a taxa elevada mostra o fracasso da política educacional, que não está conseguindo atingir essa população específica:

- Vários países conseguiram sucessos maiores que o Brasil no combate ao analfabetismo. Conseguimos universalizar o ensino de 7 a 14 anos, mas o ritmo de queda do analfabetismo foi insuficiente para alcançar países como Argentina e Cuba.

Os cursos de alfabetização e educação de jovens e adultos atingiram, em 2006, apenas 2,5 milhões de pessoas, das quais 40% no Sudeste. A grande concentração de analfabetos, no entanto, é no Nordeste (34,4%). Na Região Sudeste, o percentual é de 16,5%.

As cores da desigualdade aparecem numa análise do perfil dos analfabetos. A taxa é de 36,4% entre os brasileiros de 40 a 59 anos - idade em que estão em plena fase produtiva. O percentual é menor entre os jovens de 15 a 24 anos (5,8%). A grande maioria dos analfabetos é de pretos e pardos (67,4% contra 32% dos brancos) e recebe até meio salário-mínimo (17,9%).

Em Pernambuco é o próprio governo que informa: há cem mil crianças fora da sala de aula. Se isso não for resolvido, elas poderão repetir a trajetória de José Geraldo dos Santos, de 23 anos, residente na área rural de Jaboatão dos Guararapes, a 18 quilômetros de Recife. Ele ficou apenas dois anos na escola. Saiu sabendo apenas assinar o nome. Deixou de estudar para trabalhar e ajudar a família, vendendo picolé nas praias do litoral Sul. Hoje vive de biscates.

- Faço um "ôia" (trabalho avulso) na Ceasa (central de abastecimento), descarregando caminhão. Mas há dias em que não dá nada. De vez e em quando, ganho umas roupinhas, umas frutas, e vou levando.