Título: Na faixa de 15 a 17 anos, só 47% no ensino médio
Autor: Almeida, Cássia e Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 29/09/2007, O País, p. 13

RETRATOS DO BRASIL: Alagoas tem as piores taxas de defasagem, enquanto Santa Catarina registra melhores índices.

IBGE mostra que cresceu o acesso à educação, mas número alto de alunos repete séries ou abandona escola.

O descompasso ainda ameaça a evolução dos índices educacionais no Brasil. Apesar do aumento do acesso aos bancos escolares, o ensino médio é realidade para apenas 47,1% dos estudantes entre 15 e 17 anos, e o analfabetismo ainda atinge mais de 14 milhões de brasileiros, revela a Síntese dos Indicadores Sociais, divulgada ontem pelo IBGE, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/2006).

De 1996 a 2006, o percentual de jovens de 15 a 17 anos que estão na escola cresceu de 69,5% para 82,2%. Mas a maioria deles ainda freqüenta o ensino fundamental. O problema é semelhante entre os estudantes de 18 a 24 anos: 12,7% freqüentam o ensino fundamental, e 43,8%, o ensino médio. Nesse segmento, a freqüência à escola aumentou de 28,4% para 31,7%.

Na faixa de 7 a 14 anos, a universalização do ensino está quase sacramentada: 97,6% das crianças e jovens nessa faixa freqüentam o ensino fundamental. Entre esses estudantes, a defasagem - índice de estudantes que estão dois anos ou mais fora da série correspondente à sua idade - ainda é grande, apesar de ter diminuído de 41,6% para 25,7%. Isso representa 8,3 milhões num universo de 32,5 milhões de estudantes.

Defasagem cai, mas ainda é alta

A redução da taxa nacional de defasagem, de acordo com Ana Lucia Saboia, coordenadora da pesquisa, pode ser atribuída aos programas de progressão continuada, que aplicam a aprovação automática, em curso em 10% das escolas do país (em São Paulo, o percentual já chega a 70%). A rede pública atendeu, em 2006, a 88,3% dos estudantes de 7 a 14 ano; e a rede privada a 11,7%.

- Torna-se imprescindível buscar novos indicadores para dimensionar melhor a qualidade do ensino nesse sistema de progressão - diz ela.

Com a experiência de mais de 40 anos de magistério, a professora Regina de Assis, presidente da MultiRio, ex-secretária de Educação do Rio e ex-integrante do Conselho Nacional de Educação, afirma que a ampliação do acesso à escola e a redução das taxas de defasagem escolar são fatos positivos, mas não significam necessariamente a melhoria da qualidade do ensino:

- É preciso haver uma mudança radical na formação prévia dos professores, na atualização desses profissionais e na qualidade dos gestores da educação brasileira. De secretários municipais, estaduais a ministros. A qualidade é sofrível. Muitas vezes eles detêm o cargo por questões políticas. Não sabem formular um projeto pedagógico. Sem essas mudanças, a qualidade não vai melhorar.

Em Alagoas, o pior índice

O estado com o menor índice de jovens de 15 a 17 anos no ensino médio é Alagoas, com 25,4%. O estado de Santa Catarina está em melhor situação, com 62%. É também em Alagoas que está a pior situação escolar dos estudantes entre 18 e 24 anos - 39,1% estão no ensino fundamental e 36,8%, no ensino médio.

No ensino superior, a desigualdade é nítida, segundo os dados da pesquisa do IBGE. Mais da metade dos estudantes universitários da rede pública vem da fatia dos 20% mais ricos do país. Do total de estudantes universitários do país, 76,4% freqüentavam universidades particulares e 23,6%, faculdades públicas.