Título: Violência reduz longevidade de idosos no Rio
Autor: Almeida, Cássia e Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 29/09/2007, O País, p. 14

RETRATOS DO BRASIL: País tem hoje 19 milhões de pessoas com 60 anos de idade ou mais, 10,5% da população.

No estado com maior proporção de pessoas acima de 60 anos, esperança de vida só é maior que no Norte e no Nordeste.

Dono da maior proporção de idosos entre os estados brasileiros, o Rio de Janeiro tem a mais baixa esperança de vida entre todas as unidades das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste: 72,8 anos. A esperança de vida no Rio só fica à frente dos índices de Norte e Nordeste, onde a expectativa de vida está em 71,3 anos e 69,4 anos, respectivamente. Segundo o IBGE, a menor expectativa de vida dos idosos no Rio está ligada aos homicídios e à violência no trânsito. De acordo com os dados de 2006, a maior esperança de vida é registrada no Distrito Federal (75,1 anos) e em Santa Catarina (75 anos).

- O dado não chega a surpreender quem trabalha na área. O que me parece novo é o fato de estarmos atrás dos estados do Sudeste, do Sul e do Centro-Oeste, porque nem sempre foi assim - analisa o sociólogo Gláucio Soares, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). - Isso se explica pela redução rápida do número de homicídios em outros estados, como São Paulo, por exemplo. Lá, a taxa é menos da metade do que era em 1999. São Paulo tinha taxa de homicídios maior do que a do Rio, mas hoje ela é menor. Isso é resultado de políticas públicas em nível municipal, estadual e federal.

A Síntese dos Indicadores Sociais constatou que os idosos estão vivendo cada vez mais e estão menos pobres. O percentual de pessoas com 80 ou mais aumentou de 11,5% em 1996 para 13,2% em 2006. O de 75 a 79 anos também cresceu: de 12% para 12,9%. O IBGE atribui o dado aos avanços da medicina.

Existem hoje 19 milhões de pessoas de 60 anos ou mais no país (10,5% da população). Entre esses, 13 milhões têm 65 anos ou mais; em 2006, 45% dos idosos viviam em Minas Gerais, Rio e São Paulo.

- O fato de os idosos estarem sub-representados entre os mais pobres (a parcela deles entre os ganham até meio salário mínimo caiu de 7,7% para 5,4%) é efeito direto das políticas públicas dirigidas para os idosos, como a valorização do mínimo, que reajusta as aposentadorias e benefícios - afirma Ana Lúcia Saboia, responsável pelo levantamento do IBGE.

O processo de envelhecimento no Rio é maior do que nos outros estados: 14,4% dos moradores fluminenses são idosos, a maior proporção do país. Segundo o IBGE, essa tendência está relacionada ao aumento da esperança de vida ao nascer e à queda da fecundidade. No Rio, a taxa de fecundidade (número de filhos por mulher) é de 1,8, uma das mais baixas do país. O Rio Grande do Sul tem a segunda maior proporção de idosos em sua população, 12,4%.

A desigualdade brasileira fica patente também nesse indicador. Os brancos são maioria entre os idosos, 57,2%, contra 41,6% de pretos e pardos. O IBGE chama a atenção para o fato de os brancos estarem sobre-representados entre os idosos, já que, no total da população, eles são 49,7% e os pretos e pardos, 49,5%. Para o IBGE, os dados refletem as condições mais precárias de vida dos pretos e pardos, "especialmente em relação às elevadas taxas de mortalidade". Outro número confirma essa tendência: 11,7% dos brancos ultrapassam os 60 anos, enquanto apenas 8,6% dos pretos e pardos conseguem fazê-lo.

O envelhecimento tem impacto direto nos cofres da Previdência Social. Entre os beneficiários, os que têm 60 anos ou mais somam 76,6%. Quando a análise é feita entre o grupo de 65 anos ou mais, o percentual sobe para 84,6%. A taxa praticamente se manteve em relação a 1996.