Título: Trabalho infantil vale até 30% da renda familiar
Autor: Martin, Isabela e Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 29/09/2007, O País, p. 16

Há 2,718 milhões de crianças de 5 a 15 anos ocupadas.

RIO e RECIFE. O trabalho infantil no Brasil registrou uma queda importante no ano passado, caindo de 12,2% em 2005 para 11,5% das crianças e jovens de 5 a 17 anos, mas a participação dos ganhos dessas crianças na renda familiar torna mais difícil combater essa ocupação. Isso acontece principalmente na faixa etária onde ele é proibido - de 5 a 15 anos - que absorve 2,718 milhões de crianças e adolescentes nessa faixa etária. A Síntese dos Indicadores Sociais mostrou que 49,1% dos menores de 10 a 15 anos que trabalham contribuem com 10% a 30% da renda familiar. Contribuem com mais que essa parcela 23,4% desses meninos e meninas.

- Há uma concentração cavalar dessas crianças trabalhadoras no Nordeste e nas famílias onde a renda é muito baixa. Qualquer novo membro que traz dinheiro para casa tem impacto significativo - afirma o economista da Unicamp, Claudio Dedecca.

Filho de mãe feirante e pai padeiro, Adriano Santos da Silva, de 16 anos, trabalha desde os 7 anos na feira de Casa Amarela, um dos bairros mais populares do Recife. Começou carregando frete, depois passou a ajudar na venda de verduras das barracas e hoje ganha a vida em um banco onde vende aipim. O ponto, no entanto, não é seu. E ele ganha menos de meio salário mínimo para vender e descascar o tubérculo durante todo o horário comercial.

Estudou até a 8ª série, mas reclama que o trabalho durante todo o dia no sol o deixa cansado para freqüentar a escola à noite. Adriano tem sete irmãos e um gêmeo que leva a mesma vida dele. Também está sem estudar. Com o pouco que recebe, ele ajuda os pais e o que sobra é para o leite do bebê. Aos 16 anos, ele já é pai e a namorada mora com os sogros. Ele não sabe quando voltará à escola.

- Eu queria voltar a estudar, pensar em ter uma vida melhor. Isso não é vida de ninguém não - reclama.

Escolarização dos que trabalham é menor

E a pesquisa do IBGE mostra que o trabalho realmente afasta as crianças dos bancos escolares. Entre as crianças e jovens de 5 a 17 anos que só estudam, a escolarização se aproxima da universalização: são 93,6%. Enquanto entre os que trabalham, essa taxa cai para 81%.

- Essa combinação acaba tirando a chance desses jovens de entrarem nas universidades públicas - afirmou o presidente do IBGE, Eduardo Nunes.

Em Pernambuco, o percentual de menores entre 10 e 15 anos que trabalham para ajudar os pais chega a 46%. E situação é muito visível até mesmo na praia de Boa Viagem, principal cartão postal de Recife, onde crianças a partir de 7 anos trabalham vendendo balas, picolés, fivelas ou ajudam nas barracas de venda de bebidas. A rua é o local de trabalho de 4,8%, mas no Nordeste a taxa é a maior entre as regiões: 6,8%.

A concentração maior de crianças no trabalho está em lojas, oficinas e fábricas. Seguido de perto das fazendas, sítios e granjas.