Título: Baixo Clero do PMDB cobra carinho de Lula
Autor: Barbosa, Adauri Antunes e Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 29/09/2007, O País, p. 19

Expectativa do partido é que governo atenda a bancada antes que CPMF chegue ao Senado.

BRASÍLIA. Numa corrida contra o tempo para aprovar a prorrogação da CPMF até 2011, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou à ofensiva e convidou 17 líderes e vice-líderes dos partidos aliados na Câmara para um jantar, na próxima terça-feira, e avisou que está disposto a se aproximar dos senadores do PMDB. Embora ele tenha declarado que não aceitará chantagem, a expectativa no partido é de que o governo resolva as pendências da bancada do Senado antes de a CPMF chegar à Casa, em 10 de outubro.

- O PMDB é o maior partido da coalizão. Temos mecanismos que podem nos levar ao entendimento. Se foi um mal-entendido, vamos explicá-lo. A pauta estava muito sobrecarregada, as questões do Senado geravam outro tipo de preocupação, mas agora, restabelecida a normalidade, vamos procurar aproximar a base do presidente - prometeu o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR).

Uma das queixas do PMDB explicitadas ontem pelo senador Wellington Salgado (PMDB-MG) é que Lula só daria atenção aos "cardeais", esquecendo-se dos "franciscanos". O único interlocutor, segundo o senador mineiro, que fala pela bancada é o líder Valdir Raupp (RO).

- O PMDB precisa de carinho, especialmente do presidente Lula. Os franciscanos disseram que os seus chinelos estão gastos. Mas tem uma hora em que não dá mais para andar descalço. Não queremos um sapato de cromo alemão, nos contentamos somente com um chinelinho novo. Pode até ser um chinelo usado - disse Salgado.

A oposição no Senado, em campanha contra a CPMF, aposta no enfraquecimento da base. Para o líder do DEM, senador Agripino Maia (RN), o problema maior de Lula será resolver as divergências cada vez mais explícitas entre PMDB e PT.

- O PMDB, o governo resolve com cargos e emendas. Quero saber é se vai obrigar o Tião Viana (PT-AC) e o (Aloizio) Mercadante (PT-SP) a recuarem.

Mercadante repete que Renan deve se licenciar

O comportamento de Viana e Mercadante em relação ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), é apontado como um fator que teria contribuído para a rebelião do PMDB que derrubou a medida provisória que criava a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo.

- No PT, há hoje um consenso sobre a necessidade de Renan se afastar do comando do Senado. Renan tem sido um fator de instabilidade para a Casa - reforçou Mercadante.

A expectativa de Lula é que a base terá que estar afinada para repetir o comportamento da última quarta-feira, quando concluiu a votação dos destaques da CPMF. Isso porque cinco MPs trancarão a pauta na semana que vem, entre elas a que trata do "PAC" da segurança, que o governo dificilmente revogaria para limpar a pauta. Os líderes na Câmara comemoraram o gesto de Lula, mas o presidente deverá ouvir que há ainda pendências em relação a nomeações e cargos.