Título: Dólar tem menor cotação em sete anos: R$1,834
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 29/09/2007, Economia, p. 43

Moeda americana também recua frente ao euro, que atinge recorde de US$1,4267, com temor de recessão nos EUA.

RIO, NOVA YORK e LONDRES. Com a expectativa de novos cortes na taxa de juros dos Estados Unidos e um risco maior de recessão na economia em 2008, o dólar perdeu valor frente a diferentes moedas ontem. Em relação ao real, a divisa fechou em baixa de 0,54%, cotada a R$1,834. É o menor valor desde 13 de setembro de 2000, quando ficou em R$1,831. De acordo com especialistas, além da entrada de investidores estrangeiros no país, o que elevou a oferta da moeda, a cotação foi influenciada pela formação da Ptax, taxa média do câmbio, calculada pelo Banco Central, que baliza os contratos de dólar negociados no mercado futuro. Na semana, a moeda acumula queda de 1,93% e no mês, de 6,62%.

Acompanhando o cenário externo, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) não conseguiu manter a trajetória de alta, registrada em cinco pregões consecutivos, e fechou em queda de 0,96%, aos 60.465 pontos. No mês, a alta, de 10,6%, foi a maior desde janeiro do ano passado (14,7%). O risco-Brasil avançou 1,14%, para 177 pontos centesimais, e, no mês, acumula queda de 9,23%. Em Nova York, o índice Dow Jones caiu 0,12%, e o Nasdaq, 0,30%. Segundo analistas, o discurso de Alan Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que afirmou que o risco de recessão nos EUA pode ser maior, foi um dos responsáveis pelas perdas nos mercados.

- O risco de recessão obviamente aumentou, mas, a meu ver, ainda está abaixo de 50%. É menos otimista do que gostaríamos - disse Greenspan à BBC, em entrevista para divulgar seu livro "A era da turbulência".

Ouro registra maior cotação desde janeiro de 1980

O dólar também perdeu valor frente ao euro. Ontem, a moeda comum européia bateu recorde frente ao dólar, subindo 0,81% e fechando a US$1,4267. Os contratos futuros de ouro para entrega em dezembro subiram 1,4%, para US$750 a onça-troy (31,1g). No início do dia, o metal alcançou a cotação de US$752,80, a mais elevada desde 22 de janeiro de 1980.

- Ontem, o dólar sofreu no mundo inteiro, pois acredita-se que o Fed baixe os juros novamente devido ao risco de uma recessão nos EUA no próximo ano - disse Alexandre Horstmann, diretor de gestão da Meta Asset Management.

Segundo Fabio Knijnik, analista sênior do BES Investimento, a Bolsa está colada com o cenário externo.

- A queda é um movimento normal do mercado, mesmo com dados positivos divulgados hoje (ontem), como o índice de inflação, os gastos e a renda do consumidor americano - ressalta Knijnik.

Ontem, o governo americano informou que os gastos dos consumidores cresceram 0,6% em agosto, a maior alta em dois anos, e a renda, 0,3%. Muitos economistas esperavam acréscimo de 0,4% tanto para o gasto quanto para a renda. Além disso, a confiança do consumidor ficou estável em setembro em relação ao mês anterior, segundo pesquisa da Universidade do Michigan. O indicador situou-se em 83,4, mesma marca registrada em agosto, mas abaixo das projeções de analistas, de 84.

Já o índice de preços dos gastos do consumidor (PCE, na sigla em inglês, bastante acompanhado pelo Fed) recuou 0,1% em agosto frente a julho. Em comparação ao mesmo mês de 2006, houve alta de 1,8%. O núcleo, que exclui alimentos e energia, ficou em 0,1%, dentro das expectativas dos analistas.

Outro dado divulgado ontem diz respeito ao mercado imobiliário, abalado pela crise das hipotecas de lato risco (subprime). Os gastos com projetos de construção não residencial privados cresceram 2,3%, mas os com moradias recuaram 1,5%. Segundo analistas, também pesou o anúncio da Mortgage Insurance Companies of America, uma das maiores de seguro hipotecário. Ela informou que as hipotecas com garantias com atraso superior a 60 dias aumentaram para 58.441 mil unidades.

Analistas esperam que Ultra leve ativos da Esso na região

A recente turbulência nos mercados levou o banco de investimentos Goldman Sachs a reduzir suas projeções de crescimento para os EUA. A estimativa para este ano recuou de 2,1% para 2%, e a de 2008, de 2,6% para 1,8%.

Daniella Marques, gestora de renda variável da Mercatto Gestão de Recursos, destaca a alta de 2,36% no preço das ações PN da Ipiranga, do Grupo Ultra. Em comunicado, a companhia informou ontem que quer crescer na área de distribuição e oportunidades de aquisições estão sendo avaliadas. Com isso, o mercado aposta que a empresa leve os ativos de distribuição da Esso, que estão à venda na América do Sul.

(*) Com agências internacionais