Título: Disputa acirrada pelo comando da nova Sudene
Autor: Lima, Maria e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 30/09/2007, O País, p. 16

Jaques Wagner quer indicar superintendente e a sede na Bahia.

BRASÍLIA. A maioria dos políticos do Nordeste reconhece que são muitos os organismos e que a política do governo de atendimento à população do semi-árido é ineficaz.

- A Sudene foi recriada só no papel, e a Adene funciona muito precariamente. O Dnocs já foi um órgão muito importante, com grandes quadros humanos. Hoje foi completamente aparelhado politicamente e não funciona mais. Não existe sinergia entre esses órgãos todos - diz o ex-governador de Pernambuco e hoje deputado Roberto Magalhães (DEM-PE).

O comando da nova Sudene, que não tem prazo para funcionar efetivamente, já é objeto de acirrada disputa política. Apesar de a sede ser em Recife, o governador da Bahia, o petista Jaques Wagner, reivindica a nomeação do superintendente, com o argumento que teria preferência por ter o seu estado o maior PIB do Nordeste. O deputado Sergio Carneiro (PT-BA) confirma a disputa. Diz que Wagner pediu a Lula que a Sudene ficasse com a Bahia, porque o Banco do Nordeste já contempla o Ceará com sua sede.

Mas, por enquanto, é uma briga por nada, já que os próprios parlamentares reconhecem que, como está, a Sudene nunca existirá na prática.

- A Sudene é uma ficção, só existe no papel. É só um jogo de cena - diz José Carlos Aleluia (DEM-BA).

- Qualquer diretoria de uma empresa estatal vale mais do que a Sudene - concorda o ex-ministro e deputado Eunicio Oliveira (PMDB-CE).

"Lula recriou apenas o símbolo da Sudene""

O ex-ministro também tem críticas ao atual sistema de ajuda ao Nordeste. Ele disse que a Sudene foi recriada pela pressão dos políticos da região, mas diz que ela não existe:

- A Adene é inoperante, e o presidente Lula recriou apenas o símbolo da Sudene, um órgão que no passado teve um valor simbólico, sem saber a que política vai servir. Nenhum dos dois órgãos tem condições de operar minimamente - afirma o deputado Armando Monteiro (PTB-PE).

O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), diz que a retomada da questão regional, com políticas de redução das desigualdades regionais é destaque entre as prioridades do governo.

- Não por acaso o presidente da República instituiu a Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR). A questão mais relevante, portanto, não é a falta de política de governo que atue neste contexto, mas a forma que os governos, historicamente, lidam com os desafios do desenvolvimento no território - afirma Geddel. - O grande desafio é o de avançar no esforço coletivo de construção de um novo modelo de articulação federativa, para atender as demandas das forças representativas da sociedade nordestina.