Título: Uma sopa de letrinhas ineficaz no Nordeste
Autor: Lima, Maria e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 30/09/2007, O País, p. 16

Sudene, Dnocs, Codevasf e Adene são algumas das instituições criadas e que não têm política integrada.

BRASÍLIA. Criada na década de 50 pelo economista Celso Furtado para ser o grande ministério que promoveria e financiaria o desenvolvimento dos estados do Nordeste e de parte de Minas Gerais, a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) foi extinta, recriada e ainda hoje é um órgão de manipulação política e foco de corrupção, sua marca registrada ao longo dos últimos governos. Com seu enfraquecimento e sem o mesmo poder de antes, seus filhotes - outros órgãos subordinados - proliferam sem política integrada e funcionam precariamente como cabides de empregos e loteamento de cargos. Enquanto seus objetivos se confundem e se sobrepõem, os problemas da seca continuam.

Vinculados hoje ao Ministério da Integração Nacional, compõem um verdadeiro festival de siglas e fazem a festa dos políticos regionais: Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs), Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), Agência de Desenvolvimento do Nordeste (Adene) e Sudene - que hoje ainda funciona junto com a Adene, mas no futuro vai incorporar sua estrutura.

- Com a fragilização da Sudene, cada um desses órgãos tomou rumo próprio, sem uma política macro-estratégica. Quando a Sudene estiver efetivamente fortalecida, poderá voltar a ser o grande órgão planejador para acabar com os fossos de pobreza e a desigualdade regional - diz o líder do governo na Câmara, o pernambucano José Múcio Monteiro (PTB-PE).

Disputa pode poder na região ainda é forte

Embora de forma menos explícita como há algumas décadas, ainda é forte a disputa de poder na região, com os governadores, prefeitos e parlamentares brigando por cargos. Além desses órgãos, há um banco estatal, o BNB, e outros quatro ou cinco fundos de fomento, entre eles o Fundo Nacional de Desenvolvimento do Nordeste (FNDE), Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) e Fundo de Cooperação Público-Privada para a Promoção da Inovação e do Fundo de Parceria, vinculado à Adene.

O Dnocs, criado há mais de 90 anos, tem cerca de 11 mil funcionários e ficou conhecido como foco de corrupção. O órgão tem enorme lista de obras inacabadas, superfaturadas e milionárias, como o açude do Castanhão, no Ceará, que demorou décadas para ser inaugurado.

A Codevasf recebeu em 2007 acréscimo de R$483 milhões em seu orçamento para obras de infra-estrutura hídrica e desenvolvimento hidroagrícola. Está à frente, junto com o Ministério da Integração Nacional, do bilionário e polêmico projeto de transposição do Rio São Francisco.

- O modelo está superado, e esses órgãos precisam ser repensados. Foram criados para levar o desenvolvimento, mas ficaram a serviço das oligarquias econômicas - afirma o deputado Silvio Costa (PRB-PE).