Título: Parentes de vítimas da Gol acusam Lula de descaso
Autor: Tavares, Mônica e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 30/09/2007, O País, p. 18

Aviões da FAB transportam familiares para homenagem.

BRASÍLIA. Os parentes das vítimas do acidente da Gol, que matou 154 pessoas há um ano, superaram a dor da passagem da data para divulgar ontem carta aberta à sociedade na qual acusam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, "que diz trabalhar pelo povo", de ter tratado as famílias com descaso nos 12 meses desde a tragédia. Eles afirmaram que Lula nunca os recebeu, mas prometeram que sempre lembrarão filhos, amigos e vizinhos de que o presidente "não se dignou" a atendê-los.

Distribuída no ato ecumênico organizado pela Gol no Jardim Botânico de Brasília, a carta critica ainda Tarso Genro, ministro da Justiça, e Denise Abreu, ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil - cuja demissão foi comemorada no texto.

"Não jogamos no seu time favorito, ao qual Vossa Excelência disponibiliza, a qualquer momento, um horário na agenda. Também não somos seus amigos de partido ou aliados políticos, com os quais Vossa Excelência não se indispõe de ouvir e encontrar. Mas lembramos, presidente Lula, que somos cidadãos, eleitores, e temos direito a sermos tratados com dignidade, a informações precisas, e apoio dos órgãos submetidos ao seu comando", diz trecho da carta.

"Nosso sentimento é de indignação. Houve omissão"

Na presença do presidente da Gol, Constantino Jr., que deixou a cerimônia no momento mais emocionante, acusaram a empresa de recusar apoio, especialmente em relação ao plano de saúde dos parentes das vítimas, que não será renovado.

- O nosso sentimento hoje é de muita tristeza e indignação, porque existe pouca movimentação do governo. Existe omissão - afirmou a presidente da Associação dos Familiares das Vítimas, Angelita de Marchi.

De manhã, 42 familiares das embarcaram em dois aviões da Força Aérea Brasileira. Parte deles sobrevoou a área da selva amazônica no Mato Grosso onde os corpos foram encontrados e jogou pétalas de rosa. Os demais foram à Fazenda Jarinã, base de apoio da FAB durante o resgate, para encontrar o dono da propriedade e seus funcionários, que receberam uma placa de agradecimento. Neusa Machado, que perdeu o marido, deixou, em nome dos parentes, uma imagem de Nossa Senhora de Fátima na capela erguida em homenagem aos mortos.

Todos se reuniram, à tarde, para uma missa na Base Aérea da Serra do Cachimbo, realizada pelo mesmo padre levado ao local à época do acidente, Alexandre Pacciolli. No retorno, levantaram-se e rezaram um Pai-nosso e uma Ave Maria, às 16h56m, horário do acidente. Em Brasília, uma última missa foi realizada na Catedral, enquanto controladores de vôo fizeram ato ecumênico. Houve homenagens ainda em cidades como Manaus, Recife e Porto Alegre.