Título: Gasolina não sobe, já o plástico...
Autor: Nogueira, Danielle e Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 30/09/2007, Economia, p. 33

Reajustes de embalagens e outros itens devem chegar ao consumidor em até três meses.

Engana-se quem pensa que o congelamento de preço dos combustíveis praticado pela Petrobras é suficiente para afastar os efeitos da alta do petróleo no bolso do consumidor. Ao contrário do que acontece com o diesel e a gasolina, que não são reajustados há exatos dois anos, a nafta - derivado do petróleo que é fundamental na fabricação de itens à base de plástico - acompanha de perto a explosão de preços da commodity.

Assim como o barril do óleo leve americano acumula alta de 36,2% no ano - após romper a barreira dos US$80 e bater sucessivos recordes este mês -, a nafta foi reajustada em 29,2% até setembro, depois do recorde histórico de junho, quando foi negociada a US$709 a tonelada. Em reais, a alta acumulada é de 14,3%, segundo a Petrobras. Resultado: ainda que de forma indireta e em menor escala, o aumento do petróleo deve chegar à casa do brasileiro nos próximos meses. Sobre a mesa de negociações, no atacado e no varejo, estão reajustes de 5% a 7% de itens que vão de garrafas térmicas a embalagens.

Os reajustes que estão sendo negociados refletem o preço da nafta de junho, quando o petróleo ainda não havia batido na casa dos US$80. Por isso, o mercado já espera novas altas dos insumos petroquímicos a partir de outubro. Essas devem chegar ao consumidor em dezembro, após os aumentos atualmente em negociação.

- Esperamos reajustes de 5% a 11% das resinas para outubro. Além da alta do petróleo, o mercado está muito demandante - afirma José Ricardo Roriz, presidente da Sindicato da Indústria de Resinas Plásticas (Siresp) e co-presidente da Suzano Petroquímica.

O discurso de Roriz ecoa as palavras de Marcelo Lyra, vice-presidente de Relações Institucionais da Braskem, a maior petroquímica da América Latina. Segundo ele, a empresa reajustou as resinas em 10% no mês de agosto e pretende anunciar novos aumentos em outubro.

- Com a disparada de preços do petróleo, a nafta aumenta e afeta a nossa rentabilidade. Certamente esta alta de agora terá que ser repassada adiante - diz Lyra.

Dólar fraco pode suavizar reajuste

O tamanho do prejuízo no bolso do brasileiro vai depender de dois fatores. O primeiro é o câmbio. Lá fora, os preços do petróleo avançam em dólar, também como conseqüência do enfraquecimento da moeda americana. Aqui, apesar de a nafta ser reajustada mensalmente de acordo com preços internacionais, é vendida em reais. Como, este ano, a moeda americana desvalorizou 14% até sexta-feira passada, funciona como um colchão, amortecendo as altas do petróleo. Até agosto, o reajuste da nafta foi de 15,8%, pouco superior aos 14,3%, relativos ao período de janeiro a setembro. A comparação fica mais gritante quando se compara a desvalorização do dólar com a alta do petróleo desde 2003. O primeiro caiu quase 21%, enquanto o segundo acumula alta de 160%.

O outro fator está associado à dinâmica da indústria petroquímica. Como a base da cadeia é concentrada - são quatro centrais de matérias-primas -, a margem para reajuste é maior nessa etapa da produção. À medida que os aumentos são repassados, o percentual tende a cair porque a última fase da cadeia - em que se transformam resinas em itens plásticos - é pulverizada, com mais de oito mil empresas de pequeno porte.

- Elas não negociam em bloco. Por isso, têm menos força para negar reajustes e também para repassá-los - avalia Otávio Carvalho, da Maxiquim, consultoria especializada em petroquímica.

Apesar da assimetria de forças, a ordem é repassar, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), Merheg Cachum.

- Não temos como absorver mais reajustes.

Como o efeito da alta do petróleo demora a chegar no bolso do brasileiro e chega de forma indireta, é difícil precisá-lo. Os sinais captados até agora pelos índices de inflação apontam uma pressão maior sobre a indústria. De janeiro a agosto, os itens plásticos subiram 3,26%, pouco acima dos 3,13% do INPC, que mede a inflação para o consumidor. Já o óleo combustível subiu 20,67%, bem acima dos 3,24% do IGP-DI, índice de inflação de matérias-primas e serviços que impactam o dia-a-dia das empresas.

- Há um aumento de custo das empresas, que afeta o consumidor no fim das contas - diz o economista da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha.

Ele lembra, porém, que o efeito do petróleo sobre certos itens não é suficiente para pressionar a inflação, pois as altas serão localizadas. O querosene de aviação (QAV) será o próximo a entrar na lista dos que terão os preços elevados a reboque do petróleo. Amanhã, estará 4,5% mais caro.

FABRICANTES BRIGAM POR REAJUSTES DE 7%, na página 34