Título: Conselho adia reuniões e tumultua agenda
Autor: Vasconcelos, Adriana e damé, Luiza
Fonte: O Globo, 01/10/2007, O País, p. 3

Oposição e aliados de Renan tentam coincidir votações de processos e da CPMF.

BRASÍLIA. Os cancelamentos e adiamentos das últimas reuniões do Conselho de Ética começaram a despertar a suspeita de que tanto o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), quanto a oposição estariam apostando, por razões diferentes, na estratégia de empurrar os novos julgamentos do senador alagoano para a mesma época da aprovação da proposta de emenda constitucional que prorroga a cobrança da CPMF. Se isso se confirmar, a Casa poderá virar um barril de pólvora.

Renan e seus aliados, que deram um susto no governo na última quarta-feira ao rejeitarem a medida provisória que criava a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, acreditam que uma coincidência entre as votações poderia levar o governo a pressionar o PT a ajudar mais uma vez na absolvição do presidente do Senado. No primeiro julgamento, as abstenções de petistas foram apontadas como as responsáveis pelo arquivamento da denúncia de que Renan.

Ainda longe de garantir os 49 votos necessários no Senado para aprovar em dois turnos a prorrogação da CPMF até 2011, o governo Lula poderá ser levado a reforçar o trabalho de Renan para que ele seja absolvido também dos demais processos que ainda tramitam no Conselho para evitar turbulências ou reações do presidente da Casa nas votações de interesse do Executivo. Já a oposição estaria apostando justamente nesse confronto entre PT e PMDB para reforçar sua estratégia de derrubar a CPMF.

A última reunião do Conselho ocorreu em 5 de setembro. Aprovou o relatório dos senadores Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS) pela cassação do mandato de Renan. Desde então, outras reuniões foram convocadas e depois adiadas ou canceladas. O senador João Pedro (PT-AM), relator da segunda representação contra Renan, está com seu parecer pronto há quase duas semanas. Ele antecipou que deverá propor a suspensão do processo sobre a denúncia de que Renan teria atuado junto à Receita Federal e ao INSS em favor da cervejaria Schincariol, depois que esta comprou uma empresa de seu irmão, o deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL). Pelo menos até que a Câmara conclua essa investigação.

Renan nega articulação de seu grupo para pressionar o governo Lula

O presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), marcou uma nova reunião para amanhã. A expectativa é que ele anuncie os relatores das outras duas representações: uma que propõe a investigação da denúncia de que Renan teria usado laranjas na compra de uma rádio e um jornal em Alagoas, e outra de que teria participação num esquema de cobrança de propina nos ministérios controlados pelo PMDB. Quintanilha adiantou que estuda a possibilidade de reuni-las num único processo.

Renan negou que exista uma articulação de seu grupo para pressionar o governo. Ele disse ontem em entrevista ao programa "Canal Livre", da TV Bandeirantes, que não estava "na festa louca" dos senadores "franciscanos" do PMDB que votaram contra o governo na semana passada, depois de se reunirem em um jantar em Brasília. Apoiadores de Renan, eles se inspiraram na figura de São Francisco de Assis para dizer que estão com os chinelos furados e que querem interlocução com o governo.

- Eu não fui convidado para essa festa louca. Eu não estava nesse jantar.

As cenas do último capítulo da novela "Paraíso Tropical", da TV Globo, e a exibição da jornalista Mônica Veloso, capa de outubro da revista "Playboy", também entraram na entrevista do presidente do Senado, que se esquivou:

- O problema de tudo é que tentam se sobrepor aos fatos. Ou não estaria na novela, mas no noticiário. E acabou, acabou como uma ficção, já que (na realidade) nada foi provado.

A novela mostrou a personagem Bebel, interpretada por Camila Pitanga, em um depoimento a uma CPI fictícia, dos Biocombustíveis. A prostituta deu a volta por cima e virou amante de um senador da República.