Título: Nova rebelião: agora é o PR
Autor: Vasconcelos, Adriana e damé, Luiza
Fonte: O Globo, 01/10/2007, O País, p. 3

Partido reivindica oito cargos federais para votar a CPMF em segundo turno.

Antes mesmo de começar uma negociação, que promete ser duríssima, para aprovar até o fim do ano a prorrogação da CPMF no Senado e não perder a arrecadação do primeiro trimestre de 2008, o governo terá de ficar atento para não levar um susto no segundo turno da votação da matéria na Câmara, previsto para acontecer no próximo dia 9. Depois do PMDB, agora é o PR que ameaça deflagrar uma rebelião. Para garantir fidelidade integral dos deputados do partido na segunda etapa de votação do tributo, a bancada apresentou a fatura e reivindica uma diretoria na Agência Nacional de Petróleo (ANP), outra na Transpetro, quatro no Departamento Nacional de Infra-estrutura em Transportes (Dnit) e dois postos de comando nos portos da Bahia.

Além dessas oito novas nomeações, o PR também cobra a aprovação imediata do nome de Luiz Antônio Pagot para a direção do Dnit. A indicação está há semanas na ordem do dia do Senado, mas sofre resistências do PSDB e de parte da base governista. A votação da indicação começou em plenário pelo menos duas vezes nas últimas semanas, mas a sessão acabou encerrada por falta de quorum.

O clima tenso na bancada levou o líder do PR, deputado Luciano Castro (RR), a fazer um alerta ao ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, sobre o risco de dissidências no segundo turno da CPMF.

- Não sei se seguro 100% da bancada - teria dito Castro a Mares Guia.

O líder do governo na Câmara, José Múcio (PTB-PE), prometeu que todos os acordos feitos pelo governo serão honrados logo depois da conclusão da votação da CPMF na Casa. O Palácio do Planalto optou por segurar as nomeações mais um pouco para evitar qualquer conotação de barganha política com seus aliados. Mas a antecipação de algumas indicações para o PT na Petrobras, como a do ex-senador José Eduardo Dutra para a BR Distribuidora, e de Maria das Graças Foster para a diretoria de Gás e Energia, levou os demais integrantes da base a exigir uma aceleração do cronograma.

- É melhor deixar para depois da votação. Mas se faz um e não faz outra, fica um mal-estar - admitiu Múcio.

Líderes querem início das negociação com Lula

Para assegurar o segundo turno da CPMF no próximo dia 9, a base governista terá de garantir primeiro quorum nas sessões da Câmara de segunda a sexta-feira, exigência regimental para a tramitação de propostas de emenda constitucionais, e votar pelo menos cinco medidas provisórias (MPs) que deverão trancar a pauta até essa data.

Qualquer novo atraso na tramitação da matéria na Câmara poderá reduzir ainda mais o já exíguo prazo das negociações no Senado, que terá obrigatoriamente de aprovar a emenda até o fim de dezembro, para que o governo não perca a arrecadação dos primeiros três meses de 2008.

Os líderes da base no Senado não escondem a preocupação e cobram o início imediato das negociações. A expectativa é que Mares Guia inclua os líderes do Senado no jantar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva oferece amanhã aos líderes governistas da Câmara.

- Se isso não acontecer, será um erro. A demora na chegada da CPMF ao Senado vai tornando sua aprovação cada vez mais difícil, o que exigirá o envolvimento não só dos articuladores políticos do governo, como de todos os ministros - advertiu a líder do PT, Ideli Salvatti (SC).

Ciente dos problemas no Senado, que levaram o PMDB a orquestrar na semana passada a derrubada da MP que criava a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, Lula terá de dar respostas rápidas a algumas demandas. A bancada peemedebista, por exemplo, cobra a retomada do comando do Ministério das Minas Energia, ocupado interinamente por Nelson Hubner - homem de confiança da ministra Dilma Rousseff - desde a saída de Silas Rondeau.

Além disso, há cobranças por negociação no mérito da proposta da CPMF. Para que o texto da emenda não seja alterado, o Planalto poderá antecipar o encaminhamento ao Congresso do projeto de lei que define a redução gradual da alíquota da contribuição e assegurar o aumento no percentual de recursos repassados à saúde.

- No Senado, o rolo compressor do governo não funciona. O governo terá de abrir um processo de negociação com os partidos, inclusive a oposição. Caso contrário, a matéria não passa - alertou o líder do PSB, Renato Casagrande (ES).

Para a oposição, a negociação será dura.

- Não abriremos mão dos prazos constitucionais e nem dos debates. São reais as chances de o governo Lula ficar sem a CPMF - aposta o líder do DEM, senador Agripino Maia (RN).

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