Título: Candidatura de Garcia acirra as divisões na maior corrente do PT
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 01/10/2007, O País, p. 4

Tendências do partido reclamam de apoio do Planalto a assessor de Lula.

SÃO PAULO. A pré-candidatura do assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia a presidente do PT está acirrando as divisões no antigo Campo Majoritário, maior corrente interna do partido, hoje chamada Construindo um Novo Brasil (CNB). Enquanto lideranças mais próximas ao Palácio do Planalto apóiam Garcia, setores do CNB ainda apostam no atual presidente, Ricardo Berzoini.

- As alternativas hoje são Marco Aurélio e Berzoini - disse o coordenador do CNB, Francisco Rocha.

Em reunião com a bancada federal do CNB, terça-feira, em Brasília, o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, negou que a candidatura de Garcia seja patrocinada pelo Planalto. Isso foi interpretado no CNB como um recuo de Lula diante da ameaça de lideranças da corrente de despejarem votos em Jilmar Tatto, pré-candidato da aliança PT de Lutas e de Massas, Novos Rumos e Movimento PT.

A reunião com Carvalho reavivou as esperanças de que Berzoini reconsidere a decisão de não concorrer à reeleição.

-Pelo menos uns 80% do CNB preferem Berzoini. Hoje existe uma espécie de "queremismo" em favor dele no Brasil todo - diz um dirigente.

Burocracia petista teme perder cargos no partido

Na semana passada, o CNB se recusou a homologar a candidatura de Garcia. Setores da corrente, especialmente na bancada federal, estão descontentes com a forma como Lula tentou impor Garcia. Além disso, reclamam de falta de espaço (cargos) e de participação nas decisões do governo. Para pressionar o Planalto, ameaçaram apoiar Tatto. Por outro lado, dirigentes do CNB vindos da burocracia partidária temem perder seus cargos já que Garcia tem dito que pretende montar a comissão executiva com nomes de expressão popular como o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopes Feijoó.

A divisão do CNB em São Paulo, berço do PT, acendeu a luz amarela na direção da corrente. Enquanto o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu defende o ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva para a presidência do diretório estadual, o atual presidente, Paulo Frateschi, e o deputado João Paulo Cunha, apóiam o deputado José Zico Prado. Na terça-feira uma comissão do CNB se reúne em Brasília e há a expectativa de que Berzoini aceite a disputa. Caso contrário, a corrente apoiará Garcia. A decisão final será no dia 7.

- O governo deve jogar pesado nos próximos dias - prevê Jilmar Tatto.

Com força em São Paulo, maior colégio eleitoral petista, e com o apoio de uma corrente nacional como o Movimento PT, representado em 24 estados, a candidatura de Tatto cresceu e tem boas chances de chegar ao segundo turno do Processo de Eleições Diretas (PED). Também pesam a favor dele o apoio à tese de candidatura própria à presidência em 2010, defendida pela maioria do PT, e a proximidade com a ministra do Turismo, Marta Suplicy.

- Tenho certeza que nosso gesto em apoio ao Jilmar vai animar muita gente da bancada a vir conosco. Buscamos tirar bases de apoio do CNB e também da Mensagem ao Partido (liderada por Tarso Genro) - disse a deputada Maria do Rosário (PT-RS), líder do Movimento PT.

Aliados de Tarso são obstáculo no Rio Grande do Sul

A candidatura de Garcia também provoca divisões na corrente Mensagem. Na semana passada, o grupo ligado a Tarso Genro aprovou um texto no qual aceita apoiar outro nome, desde que participe da coordenação da campanha e da elaboração da plataforma. A idéia era abrir caminho para o apoio a Garcia, mas o próprio pré-candidato recusou. A simpatia da Mensagem tem afastado lideranças do CNB, principalmente os envolvidos em escândalos recentes.

Garcia ainda enfrenta obstáculos na base da Mensagem no Rio Grande do Sul, onde ele sempre foi opositor de Olívio Dutra e Raul Pont, aliados de Tarso. Os mais cotados são os deputados José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP) e Henrique Fontana (PT-RS). Na esquerda petista Valter Pomar, pré-candidato da Articulação de Esquerda, negocia uma aliança com o PT Militante e Socialista.

- Com este quadro, é muito provável que nenhuma chapa tenha maioria absoluta e que a eleição vá para o segundo turno - disse Pomar.

Segundo o deputado estadual Rui Falcão (SP), líder do Novos Rumos, a mudança na correlação de forças provocada pelo PED surte efeito em todo o PT:

- Isso é positivo. O PT precisa construir um novo campo político e uma nova direção que o preparem para 2010.