Título: Recursos privados bancam 51,9% dos gastos com saúde
Autor: Weber, Demétrio e Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 01/10/2007, O País, p. 5

Cerca de 68% dos desembolsos são feitos pelos mais ricos.

BRASÍLIA. Falta de médicos, filas e mortes por demora no atendimento são cenas que se repetem cotidianamente em hospitais públicos. Um dos principais motivos para esse quadro é que, enquanto três em cada quatro brasileiros dependem do Sistema Único de Saúde (SUS), os investimentos públicos são menos da metade do total gasto no setor no país.

Cerca de 51,9% dos desembolsos (considerando medicamentos, internações, exames, entre outros gastos) são feitos pelas famílias mais abastadas do país e pelas operadoras de planos de assistência particular, aos quais pouco mais de 75% da população não têm acesso.

A disparidade se repete nos gastos feitos diretamente pelas famílias, consolidando o retrato da desigualdade no Brasil. Levando em conta apenas as despesas de saúde custeadas com recursos do orçamento familiar, 68% dos desembolsos foram feitos pelos 30% mais ricos da população, cabendo ao terço mais pobre só 7%. É o que afirma o relatório "Saúde nas Américas 2007", que a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), braço das Nações Unidas, divulga hoje em Washington.

Em 2004, gasto com saúde foi de 7,9% do PIB

A estimativa da OPAS é que, em 2004, o gasto global em saúde no Brasil correspondeu a 7,9% do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo o deputado Rafael Guerra (PSDB-MG), integrante da Frente Parlamentar da Saúde, a soma dos investimentos públicos e privados está dentro da média mundial, entre 7% e 8%. Mas, segundo o parlamentar, apenas cerca de 3,7% dos recursos são aplicados pelo setor público do país (União, estados e municípios).

Afastamento da classe média cria "SUS de segunda"

Para o deputado, o governo federal, que isoladamente tem maior capacidade de investimento, por arrecadar mais impostos, é justamente o que menos tem feito aportes de recursos: apenas 1,8% do PIB na área de saúde. A classe média está se afastando do SUS e buscando cada vez mais os planos de saúde, afirmou Rafael Guerra. Para ele, é um grande risco para o SUS quando isto acontece, quando se cria um "SUS de segunda".

- Está se criando um SUS pobre para os pobres. Existe uma desigualdade muito grande no acesso ao sistema de saúde com atendimento digno. Existe uma dificuldade muito grande nas urgências. O atendimento nas macas, nos corredores, no chão dos hospitais, não é uma forma digna. Há omissão por parte do governo - critica o parlamentar.

O trabalho da OPAS informa ainda que, entre os 10% dos brasileiros mais pobres, 54% dos gastos próprios com saúde foram destinados à aquisição de remédios e apenas 6% para pagamento de planos de saúde. No outro extremo, entre os 10% mais ricos, 24% dos gastos com saúde foram para comprar medicamentos e 33% para manutenção de planos e seguros de saúde.

Só um em quatro brasileiros tem plano de saúde

Os planos de saúde, no entanto, oferecem cobertura somente a 24,5% da população brasileira. A maioria dos usuários mora nas regiões Sudeste e Sul. O restante da população depende do SUS, bancado pelos três níveis de governo: União, estados e municípios. O estudo, que contém dados de 2004, revela ainda que o governo federal participou com 50,7% do financiamento do SUS; os estados e o Distrito Federal, com 26,6% e os municípios, com 22,7%.