Título: Lula: contratar não incha máquina
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 02/10/2007, O País, p. 3

Presidente defende mais servidores e diz que isso é que é choque de gestão.

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ontem sua definição de "choque de gestão": a contratação de pessoal. Para uma platéia de servidores públicos, durante a inauguração do Centro de Produção de Antígenos Virais (Cpav) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Manguinhos, na Zona Norte do Rio, o presidente afirmou que sempre que o assunto é a contratação de funcionários "as pessoas têm uma predisposição de ser contra". E afirmou que a criação de novas escolas, laboratórios e universidades só será possível com novos servidores.

- As pessoas passam para a sociedade uma idéia de que é possível fazer um choque de gestão diminuindo o número de pessoas que trabalham. Quando, na verdade, o choque de gestão será feito quando a gente contratar mais gente, mais qualificada, mais bem remunerada. Aí a gente vai ter também serviço de excelência - disse o presidente, sob aplausos de servidores.

A defesa das contratações começou com mais uma crítica à rejeição, pelo Senado, da medida provisória que criava a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo para Mangabeira Unger (PRB) e mais 660 cargos comissionados. Lula afirmou que a tentativa de evitar novas contratações foi um "pretexto" para o veto - uma rebeldia do PMDB:

- Vocês viram que esses dias o Senado - ainda não sei qual a razão - votou contra uma MP que mandamos, e o pretexto era que estava evitando que o governo contrate mais cargos. Agora ninguém atentou para saber quantos professores deixaram de ser contratados para as universidades novas que estamos fazendo neste país. Porque se quisermos fazer escola técnica, novas universidades, novos laboratórios, vamos ter que contratar mais gente.

Para Lula, contratar servidor não significa inchar a máquina pública. O presidente afirmou que se vendeu uma "idéia falsa" sobre a imagem do servidor, no passado.

- É preciso parar com a mania de achar que contratar gente para trabalhar para o Estado brasileiro é inchaço de máquina. Porque se vendeu uma falsa idéia, num período não muito distante, de que todo servidor público brasileiro era marajá. O que aconteceu de lá para cá? Nós temos verdadeiros centros de excelência espalhados pelo governo. Se a gente quer recuperar o atraso a que o Brasil foi submetido, vamos ter que contratar mais gente.

Langoni critica declaração de Lula

Lula também foi solidário aos servidores ao afirmar que recebem salários baixos para o grau de experiência e de capacitação que têm.

- Qualquer empresa privada pagaria o dobro do que gente paga pra qualquer funcionário nosso, seja da Petrobras, da Receita, do Inmetro, da Fiocruz - afirmou Lula.

À noite, o presidente participou da comemoração dos 180 anos do "Jornal do Commercio", no hotel Copacabana Palace. Também presente ao evento, o economista Carlos Langoni criticou a declaração do presidente, sobre a necessidade de contratar mais servidores na esfera federal:

- Não concordo com a política do governo de aumentar o número de servidores. Precisamos, na verdade, trabalhar com servidores qualificados.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que vai apresentar hoje ao presidente as opções para a recriação da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, pasta de Mangabeira Unger extinta após a rebelião do PMDB no Senado. O ministro não considera recomendável uma nova MP para tratar do assunto:

- Não vamos entrar em linha de confronto com o Senado.

Antes do discurso de Lula na Fiocruz, cerca de 50 funcionários da instituição fizeram um protesto no acesso ao Centro de Produção de Vacinas. O grupo segurava cartazes, com pedidos de melhores condições de trabalho e reajuste salarial. Os servidores distribuíram panfletos com críticas ao estado do Hospital Geral de Bonsucesso.

O centro inaugurado ontem, ligado ao Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos), tem capacidade para fabricar cem milhões de doses de vacinas virais por ano. Inicialmente o Cpav produzirá a vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola). O investimento no centro foi de R$55 milhões.

A previsão do presidente do Biomanguinhos, Akira Homma, é que até 2010 o Brasil será auto-suficiente na produção da vacina. No laboratório, também poderão ser produzidas vacinas contra rotavírus, varicela, hepatite A, febre amarela inativada, poliomielite inativada e dengue.

Durante a inauguração, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou que o chamado PAC da Saúde deverá ser concluído em até três semanas. O ministro não informou o montante de recursos, mas disse que o programa vai contemplar a regulamentação da emenda 29, que determina a estados e municípios a aplicação em saúde de 12% e 15% de seus orçamentos, respectivamente. A regulamentação também foi defendida por Lula, em seu discurso. Bem-humorado, Lula chegou a ceder parte de seu tempo de discurso para que Akira Homma explicasse o projeto, "principalmente para a imprensa".

- Não sei se me fiz entender - disse Akira, no final.

- Pelo menos eles (os jornalistas) anotaram - devolveu Lula, rindo.