Título: Relator de caso Renan é de sua tropa de choque
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 02/10/2007, O País, p. 8

Quintanilha entrega relatoria a Almeida Lima, e PMDB tentará arquivar dois processos contra o senador.

BRASÍLIA.O PMDB começou a articular ontem uma nova estratégia para arquivar todas as representações contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que ainda tramitam no Conselho de Ética. Sem qualquer receio de que sua atitude possa ser interpretada como mais uma manobra para proteger Renan, o presidente do Conselho, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), anunciou a decisão de entregar ao colega Almeida Lima (PMDB-SE) - um dos principais integrantes da tropa de choque renanzista - a relatoria da terceira e da quarta representações contra o presidente do Senado, que serão juntadas num único processo como forma de apressar as investigações.

- A grande maioria dos senadores já tem opinião formada sobre as representações. Mas vale ressaltar que a decisão final sobre o processo não caberá ao relator, mas ao plenário do Conselho - argumentou Quintanilha, diante dos questionamentos se Almeida Lima seria isento para relatar o caso, tendo em vista sua posição clara em defesa de Renan.

Salgado apresentará voto em separado para livrar senador

A oposição, no entanto, promete contestar as decisões de Quintanilha na reunião do Conselho marcada para hoje, durante a qual poderá ser encerrada a segunda representação contra Renan, relatada pelo senador João Pedro (PT-AM). O petista vai propor a suspensão temporária da investigação sobre a denúncia de que Renan teria interferido junto à Receita Federal e ao INSS a favor da cervejaria Schincariol, depois de a empresa ter comprado uma empresa do deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), irmão do presidente do Senado. Um outro aliado de Renan quer mais: Wellington Salgado (PMDB-MG) apresentará um voto em separado propondo o arquivamento da denúncia.

- Isso é um provocação clara. Uma atitude típica de quem quer ver sua decisão contestada, que só agrava o clima de tensão no Senado - reagiu o líder do DEM, Agripino Maia (RN).

Antes mesmo da oficialização da escolha de Almeida Lima, o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), e o senador Gilvam Borges (PMDB-AP) apostavam no arquivamento sumário da terceira representação, assinada pelo PSDB e pelo Democratas, que solicita a investigação da denúncia de que Renan teria usado laranjas na compra de duas rádios e um jornal em Alagoas. Como a operação teria sido realizada em 1998, os peemedebistas alegam que a denúncia refere-se a um fato anterior ao atual mandato de Renan, que começou em 2002, embora na ocasião da compra ele já fosse senador.

- Trata-se de um fato anterior ao atual mandato, por isso deverá ser arquivada, assim como ocorreu com o senador Gim Argello - defendeu Raupp.

Oposição duvida que Conselho aceite estratégia

Agripino Maia não acredita que o Conselho de Ética aceite essa proposta:

- Não acredito que o Conselho de Ética vá se suicidar. Os fatos da nossa representação são muito graves. Arquivar sumariamente, seria um suicídio.

A quarta representação contra Renan, apresentada pelo PSOL, refere-se à denúncia de que o presidente do Senado participaria de um esquema de cobrança de propinas nos ministérios controlados pelo PMDB. A denúncia foi feita pelo ex-genro do lobista Luiz Garcia Coelho, amigo de Renan Calheiros.