Título: Novo diretor do FMI: mais espaço para o Brasil
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 02/10/2007, Economia, p. 23

Strauss-Kahn ressalta importância de emergentes e defende que tenham maior peso nas decisões do Fundo

Deborah Berlinck

PARIS. Dominique Strauss-Khan, o socialista francês que assumirá o comando do Fundo Monetário Internacional (FMI) no dia 1º de novembro no lugar do espanhol Rodrigo de Rato, fez ontem um discurso veemente para que países emergentes, como o Brasil, tenham mais peso no sistema de decisão do Fundo. Na sua primeira coletiva de imprensa depois da nomeação, ele afirmou que quer acabar com a desconfiança na América Latina em relação ao Fundo e defendeu expressamente mais espaço para o Brasil:

- O Brasil e o México são o caso típico de países emergentes que precisam ter sua representação (no Fundo) melhorada. Quando comparamos um pequeno país europeu com o Brasil e constatamos que o Brasil é menos representado do que esse país, dizemos: o mundo não gira! É preciso corrigir isso.

Strauss-Kahn defende que os europeus e a Rússia abandonem uma parte de seus direitos de voto no FMI para dar espaço aos outros. E mais: para aumentar o peso dos emergentes, é preciso ir além da reforma no sistema de cotas. O FMI tem 185 países-membros, e a voz de cada um é medida com base na sua participação financeira na organização (em número de cotas).

Objetivo é diversificar funcionários do Fundo

Na prática, as decisões do FMI são ditadas por dois blocos - EUA e União Européia (UE) - que, tendo mais de 15% dos votos cada, são os únicos com direito a veto.

- A cota do Brasil é de 1,4%. Quando a reforma acontecer, espero, o mais rápido possível, a cota tem que aumentar - disse Strauss-Khan, acrescentando que, mesmo quando o Brasil chegar a "1,6%, 1,7% ou 1,8% , isso não mudará fundamentalmente a situação em torno da mesa". E foi incisivo:

- É preciso ir além da reforma da cota, criando a possibilidade de dar expressão e voz a países que hoje pesam muito mais na economia mundial e têm um papel dinâmico na economia mundial. De forma que, na tomada de decisão do FMI, escutemos a voz de países que representam centenas de milhares.

Durante a campanha, Strauss-Khan defendeu votação por dupla maioria nas decisões do Fundo, levando em conta não só a repartição das cotas, mas também o peso dos países. Ex-ministro de Economia do socialista Lionel Jospin, ele quer mais espaço para os africanos, além da diversificação dos cerca de 2.700 funcionários do FMI. Segundo ele, América Latina, África e Ásia estão mal representados nesse campo também.

Strauss-Kahn reconheceu ontem que nenhuma reforma "de envergadura" no FMI pode ser feita sem o apoio dos EUA.

- Os EUA estão conscientes hoje de que é interesse deles ter um FMI que funcione. E um Fundo que funcione não pode ser rejeitado por milhões de indivíduos, na Ásia, na América Latina, no Brasil.

Crise não terá "efeitos dramáticos" no crescimento

O futuro diretor do FMI acha que a crise nos EUA desencadeada pelo mercado hipotecário não vai provocar "efeitos dramáticos" no crescimento mundial. As bases "são sólidas", garantiu. Segundo ele, são os emergentes que vão puxar o crescimento. Esse é mais um motivo para que ganhem mais peso no Fundo. Strauss-Kahn disse que a desconfiança histórica dos latinos em relação ao FMI é, em boa parte, "justificada".

- O Fundo tem de ajudar o povo, às vezes corrigir erros... Mas ajudar o povo, e não impor remédios insuportáveis - disse ele, definindo-se como "socialista pró-mercado livre".