Título: Lula compara economia do país a doente terminal que saiu da UTI
Autor: França, Mirelle de
Fonte: O Globo, 02/10/2007, Economia, p. 24

Presidente pede que BNDES empreste mais e sugere meta de R$100 bi.

Durante cerimônia ontem no BNDES, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou a economia do país a um doente terminal que deixou a UTI e "já está passeando e fazendo cooper na Avenida Atlântica, sem necessidade de tomar mais antibióticos, mas apenas vitamina C". Uma alternativa para vitaminar o ex-doente seria o aumento do volume de empréstimos concedidos pelo próprio BNDES, que, segundo Lula, deveria estabelecer como meta o valor de R$100 bilhões no ano de 2010, valor 53% superior ao orçamento de R$65 bilhões previsto para 2007.

O pedido para elevar o volume de financiamentos foi feito a Coutinho em almoço na sede do banco, pouco antes da assinatura de um contrato de liberação de R$16,4 milhões para cooperativas de catadores de produtos recicláveis. O presidente do banco, no entanto, foi mais conservador em suas previsões:

- Para 2008, uma das estimativas é de desembolsos da ordem de R$70,5 milhões. Já temos cerca de R$90 bilhões em projetos aprovados. Por isso, é natural que o desembolso suba, já que temos um estoque maior de projetos aprovados. Se mantivermos a ascensão verificada nos últimos dois ou três anos podemos chegar nesse nível que o presidente mencionou (R$100 bilhões), mas não quero fazer um prognóstico ainda.

Presidente lembra que já foi discriminado no Rio

No evento, Lula ouviu emocionado os relatos dos catadores e contou que também já foi discriminado, como alguns deles. Segundo o presidente, ao visitar um ex-prefeito do Rio há alguns anos, junto com Benedita da Silva, foi proibido de subir pelo elevador social:

- Foi a primeira vez, como político, que me senti um cidadão de terceira categoria. Porque se tem uma coisa abominável é você viver num país que tem um elevador para um e para outro.

Em outro momento, mais bem-humorado, Lula disse que, com o empréstimo, os catadores começarão a resgatar sua cidadania e poderão ser chamados para tomar um chope no Bar Amarelinho com um bando de engravatados:

- Quando menos vocês esperarem, estarão num bar desse, e terá alguém como nós tomando uma cerveja que será capaz de dizer: "companheiro, pára a carrocinha e vamos tomar uma cerveja".

Sonia dos Santos, catadora de uma cooperativa de Salvador há 30 anos, emocionou-se ao encontrar o presidente Lula:

- Esses recursos vão mudar a nossa vida. Vão chegar em boa hora - disse Sonia, referindo-se ao programa do BNDES, depois de chorar abraçada a Lula.

Lula destacou, na cerimônia, que a economia brasileira nunca esteve tão "arrumada" e cobrou de especialistas o reconhecimento das mudanças:

- Tenho mais três anos e quatro meses (de governo). Quero aproveitar para consolidar e arrumar o país. Qualquer economista de bom senso, por mais oposição e mais contra o governo que seja, qualquer um que tenha um mínimo de honradez (em relação) ao que aprendeu na faculdade de economia, tem que dizer publicamente que esse país nunca esteve tão arrumado como agora.