Título: O senhor do tempo no Senado
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 03/10/2007, O País, p. 3

Renan manobra para jogar para 2008 processos contra ele, que não serão mais unificados.

Opresidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), conseguiu ontem adiar o início de seus próximos julgamentos por quebra de decoro parlamentar. Embora o presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), tenha sido obrigado a recuar da decisão de unificar duas das quatro representações contra Renan, manteve a indicação do senador Almeida Lima (PMDB-SE) - um dos integrantes da tropa de choque renanzista - para relator de um desses processos.

Quintanilha estabeleceu um prazo de 30 dias para que as investigações sejam concluídas, inclusive o da segunda representação, cujo relatório seria lido ontem pelo senador João Pedro (PT-AM). Qualquer novo adiamento nesse cronograma, porém, poderá jogar a votação dos processos para 2008.

A sessão do Conselho foi mais uma reunião tensa, com muito bate-boca. Quintanilha se recusou a assumir qualquer compromisso de pôr os processos contra Renan em votação até dezembro:

- Não posso dar garantia. Se algum relator pedir um prazo maior para as investigações, não poderei negar.

- A cada manobra, Renan vai ganhando mais uma semana. Regimentalmente, ele tem como manobrar e continuar adiando seu julgamento para o ano que vem. Não temos muito o que fazer - disse o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), prometendo empenho para garantir que todos os processos sejam apreciados este ano.

Quintanilha deve decidir hoje qual representação será relatada por Almeida Lima: a que trata da denúncia de que Renan teria usado laranjas na compra de uma rádio e um jornal em Alagoas ou a que investigará a participação dele num esquema de cobrança de propina em ministérios comandados pelo PMDB.

Almeida Lima e Agripino batem boca

O presidente do Conselho prometeu anunciar hoje o nome do outro relator. A oposição pressiona para que a relatoria seja entregue a um representante do Conselho que ainda não tenha relatado outro processo. Caso prevaleça esse critério, as alternativas serão os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP), Augusto Botelho (PT-RR) e Jefferson Peres (PDT-AM).

Almeida Lima reagiu às contestações de seus colegas sobre sua indicação. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), a classificou de infeliz. Irritado com os apelos feitos a Quintanilha para que revisse a indicação, Almeida Lima discutiu com o líder do Democratas, José Agripino (RN).

- Não vejo condições morais ou éticas no senador Agripino superiores às minhas para que ele conteste minha indicação - disparou Almeida.

- Que questão moral é essa? Essa nomeação soa como uma provocação - interrompeu Agripino.

- Não tive intenção de provocar ninguém com a minha decisão. Mas respeito a posição de cada um dos integrantes desse conselho - interveio Quintanilha.

O senador João Pedro quer aproveitar o novo prazo e pedir uma diligência da Polícia Federal. Ele é relator da segunda representação, que investiga a suposta interferência de Renan na Receita Federal e no INSS em benefício da Schincariol, após esta comprar, por um valor superior ao de mercado, uma empresa de seu irmão, o deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL). Ele quer pedir uma cópia do inquérito da Operação Cevada, na qual foram presos dirigentes da cervejaria, para saber se ela reduziu seus débitos fiscais:

- Vou ter tanto tempo, que posso modificar meu relatório.

Renan já foi absolvido - em sessão secreta - da acusação de ter usado recursos de um lobista da Mendes Junior, para pagar pensão alimentícia; e de ter usado notas frias para justificar seus rendimentos.