Título: Após um ano, controle aéreo será descentralizado
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 03/10/2007, O País, p. 8

Aeronáutica vai tirar do Cindacta 1, foco de resistência de controladores, monitoramento de parte dos vôos para Rio e SP.

BRASÍLIA. Para descentralizar o controle do tráfego aéreo, concentrado no Cindacta 1, em Brasília - considerado o foco de resistência dos controladores de vôo -, o Comando da Aeronáutica começa no próximo dia 25 a redistribuir as áreas de monitoramento dos vôos no país. A primeira medida será retirar do Cindacta 1 dois setores do Estado do Rio: um que vai da região norte do estado até a divisa com o Espírito Santo e outro que abrange 60% do estado, uma parte de Minas Gerais (Belo Horizonte, Juiz de Fora, Barbacena) e o Vale Paraíba, em São Paulo, e é um dos cinco mais movimentados do país. Essas áreas passarão a ser de competência do Cindacta 2, em Curitiba.

Na prática, a medida atinge todos os vôos que vão para o Rio e não passam por São Paulo, como os que partem do Nordeste, do Centro-Oeste, de países do Cone Sul e da Europa e EUA. Não haverá mudanças na ponte aérea, que é uma área especial, controlada pelo centro de aproximação de Rio e São Paulo.

No início do ano, o Cindacta 1 deverá perder o controle do tráfego no Espírito Santo, que ficará com o Cindacta 3, em Recife; e o de Mato Grosso, que ficará com Manaus (Cindacta 4). Atualmente, todas as aeronaves que atravessam o país são controladas em algum momento pelo Cindacta 1, que responde por 80% do tráfego aéreo nacional. A intenção da Aeronáutica é reduzir essa participação para 50%.

Com as mudanças, o centro de controle de Curitiba poderá transferir vôos para Manaus e Recife, sem ter de falar com Brasília. Um alto oficial da Força Aérea disse ao GLOBO que o principal objetivo da medida é retirar o foco de Brasília. Prova disso é que o limite de aviões que um controlador pode ter sob sua responsabilidade ao mesmo tempo, 14, não foi alterado.

A redistribuição das áreas, anunciada no início da crise em 2006, chegou a ser engavetada, mas com o recrudescimento do movimento dos controladores, a Aeronáutica decidiu pôr a medida em prática. Para isso, precisou fazer ajustes em centrais de comunicação e terá de reforçar o efetivo para não sobrecarregar outros centros.

Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Controle de Vôo, Jorge Botelho, a Aeronáutica está simplesmente trocando o problema de lugar. Ele disse que o centro de Curitiba, responsável pela Região Sul e por Mato Grosso do Sul, tem apresentado problemas:

- Estão jogando muita coisa para Curitiba, que pode apresentar em pouco tempo os mesmos problemas de Brasília.

Controladores relatam riscos de colisão em Florianópolis

Controladores de Florianópolis relatam que, devido a um problema no radar, os aviões desaparecem da tela a oito mil pés (2.700 metros) e só reaparecem na reta final de aproximação da pista do aeroporto. A região é cercada de morros e há riscos de colisão. Segundo eles, esse tipo de problema vem sendo registrado diariamente no livro de ocorrências, sem que a Aeronáutica tome medidas.

No fim de semana, a Aeronáutica desativou os corredores especiais de tráfego aéreo, que ligavam São Paulo ao Nordeste e a volta, passando por Rio e São Paulo. A conseqüência, segundo controladores, é que o centro de controle voltou a ficar sobrecarregado e passou a adotar medidas de controle de fluxo.

O Centro de Comunicação da Aeronáutica (Cecomsaer) foi procurado mas não respondeu até ontem à noite. Sobre a denúncia dos controladores de Florianópolis, a assessoria admitiu que o problema existe por se tratar de uma região montanhosa que interfere no alcance do radar. Mas diz que não há risco porque foram criados procedimentos a serem seguidos pelos controladores e pilotos.