Título: Oposição reage a defesa das contratações
Autor: Batista, Henrique Gomes e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 03/10/2007, O País, p. 10

Aécio diz que choque de gestão é diferente de inchar a máquina; líderes do DEM e do PSDB também criticam.

Henrique Gomes Batista e Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), criticou a opinião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que dissera na segunda-feira que "choque de gestão é contratar, e não demitir" - e afirmou que seu governo é o melhor exemplo para o país em termos de austeridade fiscal. Segundo Aécio, o Brasil vive um momento de inchaço da máquina pública.

- Com todo o respeito ao meu amigo, o presidente Lula, discordo frontalmente de uma declaração a ele atribuída. O que entendemos como choque de gestão é algo muito diferente do que o inchaço da máquina pública - disse o governador.

Aécio afirmou que tem conseguido fazer com que seu estado seja mais eficiente com menos funcionários. Para o governador, o aumento dos gastos correntes do governo federal - que classificou de elevados e "incomprimíveis" - faz com que a União fique refém de tributos como a CPMF.

Perguntado se concorda que é impossível governar sem a CPMF, como já disse Lula, Aécio disse que a afirmação do presidente só faz sentido com a atual elevação dos gastos correntes:

- A CPMF poderia ter um decréscimo natural ao longo do tempo. O que me preocupa é que o governo vem avançando, e avançando em muito, nos gastos correntes, o que não deixa uma margem razoável, mesmo a partir do crescimento da economia, para os investimentos.

O governador, que teve um encontro com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que ainda acredita que o Senado poderá repartir parte da arrecadação da CPMF - que, disse, pode ser reduzida em um cronograma estabelecido.

Oposição condena "declarações estapafúrdias"

No Congresso, a oposição criticou o discurso do presidente Lula em defesa de novas contratações pelo governo federal.

- É um horror, vejo estarrecido ele dizer que choque de gestão é contratar para o setor público. Ele não tem a menor noção de responsabilidade do cargo que tem e faz declarações estapafúrdias. Precisamos enxugar a máquina pública para aquilo que seja função típica de Estado. E esses cargos que ele defende não são na ponta, são cargos de confiança, e não beneficiarão qualquer brasileiro - disse o líder do PSDB, Antonio Carlos Pannunzio (SP).

Na mesma linha, o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA) disse que faz parte da "natureza do PT" defender o aumento do Estado brasileiro.

- Fazem parte da ideologia do PT o Estado máximo e o cidadão mínimo. Só vêm para cá medidas provisórias para criar mais cargos. Nenhuma medida que possa racionalizar os cargos comissionados. É o choque de gestão ao contrário - disse ACM Neto, acrescentando:

- Gostaria de sabatinar o presidente para ver se ele sabe o nome dos seus 37 ministros.

Outros integrantes do DEM e do PSDB ressaltaram que o presidente Lula defendia contratações falando em cargos concursados, mas a medida provisória 377, derrubada pelo Senado na semana passada, na verdade, criava 626 cargos de confiança, no nível de DAS, e ainda 34 funções gratificadas.