Título: Editora será a maior fornecedora de livros para rede pública em 2008
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 03/10/2007, O País, p. 13

Compras do governo representam 40% das vendas do setor editorial.

A Editora Moderna será a principal fornecedora de livros didáticos para escolas públicas em 2008, com vendas de R$211 milhões, que equivalem a 28% das compras do governo. O "Projeto Araribá-História" foi a coleção mais escolhida pelos professores, e terá 5,7 milhões de exemplares distribuídos.

A Moderna não se pronunciou sobre o conteúdo do livro, mas esclareceu que há diferenças entre os volumes vendidos à rede particular e ao MEC. Nos exemplares para escolas privadas (página 53), o texto começa assim: "Em 1º de janeiro de 2003, o governo federal apresentou o Programa Fome Zero". Na versão submetida ao MEC, o texto não tem essa frase.

O texto do PT sobre o Fome Zero está nas duas edições. De acordo com a editora, o manual do professor justifica: "Permite que se discuta a fome no Brasil; segundo, permite que alunos comparem as propostas do documento com as realizações concretas do governo federal".

A Moderna foi comprada em 2001 pelo grupo espanhol Prisa-Santillana, dono do jornal "El Pais", na Espanha, e de parte do "Le Monde", na França. No Brasil, a Moderna foi a primeira aquisição do grupo, que comprou a Salamandra e 75% da Objetiva. Com a chegada dos espanhóis, a Moderna, que disputava o mercado de escolas particulares, entrou na corrida pelo orçamento do MEC.

Um quarto do faturamento e 40% do volume de vendas do setor editorial brasileiro vêm de compras governamentais, segundo pesquisa dos professores Fábio Sá Earp (da UFRJ) e George Kornis (Uerj), a partir de dados da Câmara Brasileira do Livro. Em 2008, as compras serão de R$746,486 milhões.

- É um setor hiperconcentado, dominado por empresas especializadas em fazer grandes tiragem e com bons esquemas de divulgação entre os professores - afirma Earp.

Embora o MEC selecione os livros que podem ser adotados, o volume de compras de cada título depende da demanda das escolas. Os professores decidem, entre os livros aprovados, quais querem usar. A pesquisadora Célia Cristina de Figueiredo Cassiano, autora de tese de doutorado sobre o livro didático no Brasil, diz que divulgadores de editoras oferecem aos professores livros e presentes em troca da escolha de um título:

- Houve até um caso de uma editora descobrir a senha, entrar no site do governo e encomendar livros seus. Mas a fraude foi descoberta.

Mas Célia diz que o programa de compra de livros do Brasil é dos mais democráticos da América Latina:

- No México, não há escolha. O governo publica um título por disciplina. No Chile, as escolas podem escolher entre dois títulos. No Brasil, o leque de opções é maior.

COLABOROU Tatiana Farah