Título: Venezuela e EUA têm raro encontro de alto escalão
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Fonte: O Globo, 03/10/2007, O Mundo, p. 31

Reunião pode levar a visita de diplomata a Caracas. Na ONU, chanceler critica "loucura" de Washington

CARACAS. Venezuela e Estados Unidos, em geral, costumam ter posições antagônicas. Mas, ontem, dois altos funcionários desses países tiveram uma rara reunião e abriram caminho para uma possível viagem de um representante de Washington a Caracas, informou a Venezuela.

O ministro do Exterior venezuelano, Nicolas Maduro, teve uma reunião "muito cordial" com Thomas Shanon, secretário de Estado-adjunto para América Latina, na ONU, em Nova York. Há anos os dois países não tinham uma reunião de tão alto escalão. Esta foi a primeira vez que Maduro e Shanon se encontraram, e o americano manifestou o desejo de visitar a Venezuela, informou a Chancelaria. O principal assunto da reunião - realizada na segunda-feira e com uma hora de duração - foi a troca de reféns da guerrilha colombiana por presos, intermediada pela Venezuela.

Em São Paulo, deputados defendem reforma de Chávez

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, critica freqüentemente "o imperialismo americano". No mês passado, entretanto, ele pediu que George W. Bush o ajude a mediar a troca de reféns, que incluem três americanos.

Apesar da reunião, Maduro voltou ontem a criticar Washington na ONU. O chanceler denunciou "a loucura bélica" dos EUA, e defendeu o Irã. Segundo Maduro, há tempo para deter a "campanha de satanização" do Irã.

- A loucura e a ambição por recursos naturais levam os EUA a empreenderem uma guerra irracional (no Iraque) - disse Maduro. - O que aconteceria se, nessa loucura desenfreada, as elites que governam os EUA dessem o passo enlouquecedor de atacar o povo do Irã?

Em São Paulo, os deputados venezuelanos Vidal Cisneros e Julio Garcia Jarpa explicaram a reforma constitucional proposta por Chávez, que prevê, entre outras coisas, o fim do limite para reeleição. Para os dois - escalados pelo governo para explicar no exterior os objetivos da proposta - a reforma é um aprofundamento do processo democrático.

- É preciso imprimir mudanças para o aprofundamento da democracia e abrir caminho rumo ao Estado socialista que propomos - disse Cisneros.

O anteprojeto deve passar por debates antes de ser submetido a referendo. O resultado até agora é o acirramento da polarização. A oposição e setores da sociedade acusam o presidente de tentar se perpetuar no poder. Já sindicatos e chavistas apóiam a reforma, graças a propostas como redução da jornada de trabalho para 36 horas semanais.

Entre os pontos da proposta estão medidas polêmicas como criação de cidades federais, com prefeitos escolhidos pelo presidente, cinco conceitos de propriedade (social, comunitária, estatal, mista e privada) e fim do monopólio e do latifúndio.

- A propriedade privada continua existindo, desde que legitimamente adquirida - afirmou Cisneros.

COLABOROU Ricardo Galhardo, de São Paulo