Título: ONU quer brasileiro em Mianmar
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 03/10/2007, O Mundo, p. 30

Conselho de Direitos Humanos condena repressão. Gambari se reúne com general.

GENEBRA. O Conselho de Direitos Humanos da ONU - formado por 47 países, entre eles, o Brasil - condenou ontem a "violenta repressão" em Mianmar e pediu para que a junta militar deixe entrar no país o seu enviado especial, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro. Relator especial da ONU para direitos humanos no país desde 2000, Pinheiro não consegue visitar Mianmar desde 2003. Reunido em Genebra, o conselho aprovou uma resolução deplorando os espancamentos, mortes e detenções de oposicionistas no país. O representante de Mianmar, Nyunt Swe, criticou o conselho, mas não chegou a rejeitar o pedido de visita de Pinheiro.

Ao GLOBO, Pinheiro disse que se conseguir autorização para ir a Mianmar, esta será, sem dúvida, sua missão mais difícil desde que se tornou enviado especial. A resolução do conselho pede a libertação dos detidos - que podem chegar a milhares - e de todos os presos políticos, e que a junta assegure liberdades mínimas à população, bem como o acesso à informação (tudo está bloqueado, inclusive internet).

Pinheiro diz que relatos "são horripilantes"

A Pinheiro, fica a tarefa espinhosa de convencer a junta a implementar isso, bem como reconstituir os fatos e avaliar a extensão da repressão. Ele tem recebido fotos e relatos de pessoas que fogem do país:

- As informações são horripilantes em termos de mortes, espancamentos, tortura e desaparecimentos. Extremamente dramáticas - disse Pinheiro.

Segundo ele, o fato novo é que hoje, ao contrário da violenta repressão de 1988, Mianmar está cercada de países que se democratizaram, como Cingapura, Indonésia e Tailândia, e que fazem pressão contra as práticas da junta.

- Imagine que agora, no século XXI, vamos ter que lidar com desaparecimentos, exatamente como na América Latina nos anos 70 e 80! Ninguém sabe dizer quantos mortos Mianmar tem - disse Pinheiro, que pretende, com sua equipe, visitar hospitais, prisões, falar com detidos sem interferência.

Ontem, o enviado especial da ONU, Ibrahim Gambari, conseguiu finalmente se encontrar com o chefe da junta militar, general Than Shwe, após dias de espera, para tentar pôr fim à maior repressão no país em 20 anos. Ele se encontrou com Shwe e com seu vice, o general Maung Aye, em Naypyidaw, a nova capital.

Depois, numa ação inesperada, Gambari retornou a Yangon para um segundo encontro com a líder da oposição Aung San Suu Kyi, em prisão domiciliar. O fato despertou a esperança de que ele estivesse levando uma mensagem dos generais, num início de diálogo. Gambari depois iniciou a viagem de volta a Nova York, para informar sobre a visita à ONU.

Não ficou claro, porém, se Gambari conseguiu ou não convencer Shwe a acabar com a repressão. Na semana passada um série de protestos liderados por monges acabou em violência. Oficialmente, fala-se em 10 mortos, mas relatos descrevem muitas mortes, torturas e desaparecimentos.