Título: A empolgação do orador
Autor: Brígido, Carolina e Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 04/10/2007, O País, p. 3

Treze anos depois, Brossard volta ao STF, agora como advogado do DEM.

BRASÍLIA. Treze anos. Foi este o tempo que se passou entre a aposentadoria de Paulo Brossard do Supremo Tribunal Federal (STF) e sua volta à Corte - desta vez, como advogado. Aos 82 anos, acompanhado da mulher, Lúcia, e com o indefectível chapéu Panamá a tiracolo, o ex-ministro demonstrou que mantém em forma a disposição para a oratória. Foi dele a tarefa de defender o DEM no julgamento de ontem. De início, teria 15 minutos para expor seus argumentos. Começou a falar, se empolgou, e logo o advogado inscrito para fazer a sustentação oral do PSDB, José Eduardo Alckmin, cedeu-lhe seu tempo. Acabou falando por 35 minutos, sendo que os últimos cinco foram cortesia da presidente do tribunal, Ellen Gracie Northfleet.

Para ganhar mais tempo, contou, em tom anedótico, que quem fala devagar, como ele, merece tempo em dobro. Arrancou gargalhadas dos ministros do STF e dos demais presentes à sessão. Não poupou elogios a Ellen Gracie, descrita pelo advogado como elegante e bela. Em resposta, a ministra sorriu de forma lisonjeada. Foi assim, como em um programa de auditório, que Brossard seduziu a platéia para, depois, entrar no assunto sério, no caso, os argumentos jurídicos.

Sustentou que, como as eleições para a Câmara dos Deputados são proporcionais, os votos pertencem aos partidos, não ao candidato. O mandato, portanto, deveria obedecer à mesma regra.

- A representação proporcional na Câmara não depende da vontade deste ou daquele. É uma determinação constitucional que, diga-se, não vem de hoje - afirmou na tribuna.

Lúcia, casada com Brossard há 57 anos, acompanhou atentamente o discurso do marido e dos demais advogados. De vez em quando, a concentração era interrompida por um bocejo distraído. No intervalo da sessão, ela fez questão de dizer que sempre acompanha o marido por onde quer que ele vá. Explicou também que, desde a mudança para Porto Alegre, no ano da aposentadoria de Brossard, o casal aproveita toda ocasião para ir a Brasília visitar os amigos. Mas, quando perguntada se ainda se emociona ao ver o companheiro falar, disse:

- Ah, não! Já me acostumei com isso há muito tempo.