Título: Bate-boca e cotoveladas recepcionam Eduardo Paes em um PMDB dividido
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 04/10/2007, O País, p. 4

Cabral, padrinho da filiação, diz que prioridade é relação positiva com Lula.

Em uma cerimônia curta e confusa, com cenas de bate-boca e cotoveladas entre militantes, o ex-secretário-geral do PSDB Eduardo Paes assinou ontem a ficha de filiação ao PMDB, escoltado pelo governador Sérgio Cabral. Os dois foram hostilizados por 12 manifestantes do Movimento Estudantil Popular e de Luta, ligado a Clarissa Matheus, filha do ex-governador Anthony Garotinho.

Cabral minimizou a ameaça feita anteontem pelo ex-governador de contestar a entrada do ex-tucano no partido.

- Ah, coitado. Deixa ele (Garotinho) para lá - disse o governador, em entrevista depois do encontro, quando também foi irônico ao se referir aos manifestantes:

- Essa garotada, ligada a vocês sabem quem, tinha até um programinha no governo, chamado Jovens Pela Paz. Agora, estão desempregados.

Garotinho e o secretário-geral do PMDB, Jorge Picciani, defendem a manutenção da aliança com o DEM, do prefeito Cesar Maia. O acordo, decidido pelo diretório regional há um mês, prevê que o candidato à Prefeitura do Rio seja indicado pelos democratas. O governador, que chegou a participar das negociações, agora quer Paes - um dos grandes adversários de Cesar no estado - como candidato. A aproximação com o prefeito desagradara ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Paes disse não acreditar na impugnação:

- O PMDB é um partido de origem democrática. A impugnação de uma filiação seria um instrumento autoritário - disse o novo peemedebista.

No discurso, em que teve que gritar para driblar as vaias, poucas mas altas, Cabral declarou mais uma vez fidelidade ao presidente Lula.

- O que o partido quer são alianças positivas para que a cidade do Rio tenha cada vez mais uma relação positiva com o presidente Lula - disse o governador.

"Não tenho constrangimento algum", diz Paes

Relator-adjunto da CPI dos Correios, base para a denúncia que resultou na transformação em réus dos 40 envolvidos no escândalo do mensalão, Paes afirmou que a hora agora é de assumir outro papel:

- Aquele era meu papel. Mas, se virasse governador, ia virar muito amigo do Lula. Não vou ocupar função pública para investigar os outros, a não ser que essa seja uma das demandas da minha função. Não tenho constrangimento algum - disse Paes, em entrevista.

Aos gritos de "PMDB não é barriga de aluguel", "Eduardo, vai para o PT, leva o Cabral junto com você" e "Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão" - esse dirigido a Cabral -, militantes contra a filiação provocavam os defensores de Paes. O clima esquentou quando os dois grupos trocaram cotoveladas e empurrões.

- Não diria que é a entrada mais tranqüila da face da terra - reconheceu Paes.

Na ata de filiação, Paes afirma que a decisão sobre as eleições de 2008 fica subordinada ao PMDB. Também saíram do PSDB rumo ao PMDB o deputado estadual Pedro Paulo e os vereadores Luiz Carlos Ramos, Luiz Guaraná e Patricia Amorim.