Título: Na carona do Estado argentino
Autor: Oliveira, Eliane e Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 04/10/2007, O Mundo, p. 30

Usando estrutura do governo do marido, Cristina Kirchner vem ao Brasil em avião oficial e com ministros.

Acandidata à Presidência da Argentina e senadora Cristina Fernández de Kirchner aproveitou a condição de primeira-dama de seu país e usou a estrutura do governo comandado por seu marido, Néstor Kirchner, para vir ao Brasil e convencer os investidores brasileiros a continuarem confiando na economia argentina. Usando avião oficial e acompanhada por alguns ministros, entre os quais o chanceler Jorge Taiana e o ministro da Economia, Miguel Peirano, Cristina trouxe como mensagem sua decisão de "qualificar" e melhorar ainda mais as relações entre Brasil e Argentina e aprofundar o Mercosul.

- A razão de minha presença hoje, aqui, é a reafirmação da associação estratégica entre Brasil e Argentina - afirmou, após uma visita-relâmpago a Brasília que durou seis horas.

Ela enfatizou que os dois países passam por um momento de "sintonia fina" jamais visto na história das relações bilaterais. E enfatizou que sempre teve grande apreço pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem almoçou no Palácio da Alvorada.

- Temos uma oportunidade histórica e inédita de constituir, em toda a América do Sul, um bloco econômico e político - disse a candidata, franca favorita nas eleições argentinas, marcadas para o próximo dia 28.

O discurso de Cristina Kirchner - repetido em uma reunião com os principais investidores brasileiros na Argentina - soou como música para o governo brasileiro, que a recebeu com honras, como o hasteamento da bandeira argentina em um dos mastros do Itamaraty. No entanto, ela não recebeu o apoio explícito de Lula, embora nos bastidores o presidente esteja torcendo por sua vitória.

Segundo o assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, durante o almoço no Palácio da Alvorada, a candidata não pediu apoio a Lula. Ele revelou que o presidente, por sua vez, convidou Cristina Kirchner para voltar ao Brasil, caso ela seja eleita, antes mesmo de tomar posse.

- Seria uma coisa incompreensível se ela pedisse apoio aqui, até porque o presidente tem título eleitoral em São Bernardo - disse Garcia. - O presidente e a senadora são amigos de longa data, conviveram em muitas reuniões internacionais. Havia essa solicitação do encontro, que acolhemos com o maior agrado possível.

Viagem gera críticas da oposição

Garcia disse que, pelo menos até o momento, não houve solicitação de audiência com o presidente brasileiro dos demais candidatos argentinos. Os principais adversários da primeira-dama são o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna e a ex-deputada Elisa Carrió.

Opositores do governo Néstor Kirchner redobraram ontem suas críticas à utilização de recursos do Estado argentino na campanha eleitoral da primeira-dama. Um dia depois de o partido liderado por Lavagna apresentar uma denúncia contra a candidata do governo, setores da oposição voltaram a questionar a atitude da Casa Rosada. Como ocorreu ontem em sua visita ao Brasil, ministros do Gabinete do presidente Kirchner participaram de outras viagens internacionais da candidata, com destaque para o chanceler Jorge Taiana.

- A Casa Rosada virou um comando de campanha. Foi alugado um avião que custa US$100 mil para as viagens da senadora ao exterior - afirmou o jurista Julio Strassera, colaborador de Lavagna.

Segundo Strassera, em sua recente visita à Áustria, a primeira-dama argentina hospedou-se num hotel que custa 4.100 por dia. A candidata presidencial da Coalizão Cívica, Elisa Carrió, também fez duras acusações contra o governo Kirchner.

- A campanha eleitoral com recursos do Estado, as viagens ao exterior comprometem o Estado argentino. Isso representa a máxima violação da lei eleitoral - criticou Carrió.

*Correspondente