Título: PMDB e Renan tiram Jarbas e Simon da CCJ
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 05/10/2007, O País, p. 8

REFORMA POLÍTICA: Almeida Lima e Paulo Duque ocuparão as vagas, por indicação do líder do PMDB, Valdir Raupp

Peemedebistas históricos, os dois senadores foram punidos por fazer oposição ao presidente da Casa e ao governo Lula.

BRASÍLIA. Diante de um plenário praticamente vazio, foi lido ontem, no fim da tarde, um comunicado do líder do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), informando sua decisão de destituir do posto de titulares da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) os senadores Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon, peemedebistas históricos. Os dois fazem oposição ao governo Lula e têm se rebelado contra a permanência de Renan Calheiros (PMDB-AL) na presidência do Senado. A decisão acirrou ainda mais o clima de tensão na Casa.

Para o lugar de Jarbas foi indicado Almeida Lima (PMDB-SE), um dos principais integrantes da tropa de choque de Renan, que assumiu o cargo de relator do segundo processo contra o aliado no Conselho de Ética. A vaga de Simon será ocupada por Paulo Duque (PMDB-RJ), segundo suplente do ex-senador e atual governador do Rio, Sérgio Cabral.

Para que o comunicado fosse lido ontem, a secretária-geral da Mesa do Senado, Cláudia Lyra, pediu ao senador Heráclito Fortes (DEM-PI), que presidia os trabalhos, que não encerrasse a sessão, apesar da falta de oradores inscritos. Ele, então, suspendeu a reunião por cinco minutos. Na reabertura, coube a Neuto de Conto (PMDB-SC) fazer a leitura do documento assinado por Raupp. Visivelmente constrangido, Conto se solidarizou, logo depois, com os colegas de bancada.

Para senadores, Renan articulou a destituição

Simon e Jarbas dizem não ter dúvidas de que Renan estaria por trás de mais essa manobra. Isso porque a substituição dos dois tanto poderá favorecer o presidente do Senado em seus próximos julgamentos, já que os processos de cassação passam necessariamente pela CCJ antes de ser encaminhados para o plenário, como facilitaria uma ação coordenada do partido na votação da proposta de emenda constitucional que prorroga a cobrança da CPMF.

- Passei pela ditadura sem passar por uma violência como essa - lamentou Simon, que, na próxima terça-feira, deverá se reunir com Jarbas para traçar uma estratégia de reação conjunta.

Jarbas chegou a desligar o telefone na cara de Raupp, quando este ligou atrasado para comunicar sua decisão.

- Tinha você como líder governista, mas com certa compostura. Mas isso desapareceu. Se está me ligando para falar da minha destituição, fiquei sabendo pela TV Senado há 15 minutos. Estamos conversados - interrompeu Jarbas, quando o líder do PMDB começou a falar.

Para o senador pernambucano, Renan perdeu o resto da compostura que ainda tinha:

- Eu pensei que ele iria pensar duas vezes antes de tomar uma atitude desta. Mas Renan é uma figura perniciosa ao Congresso Nacional. Isso foi feito por ele, porque o PMDB no Senado não existe.

Segundo Raupp, a decisão foi tomada em conjunto com a bancada, num jantar realizado na sua casa na terça-feira à noite, do qual Renan participou. Ele argumentou que os dois senadores vinham votando sistematicamente em desacordo com a bancada. Lamentou não ter conseguido avisá-los antes que o comunicado fosse lido.

- Foi uma decisão dura e difícil. É possível que acirre os ânimos na Casa, mas foi tomada pela bancada. Não estou arrependido - afirmou Raupp.

Parlamentares se solidarizam com colegas

Ontem mesmo, Jarbas e Simon receberam a solidariedade de s colegas. Um dos primeiros foi o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que denunciou a tentativa do PMDB de calar "seus ilustres representantes":

- Que razão o partido pode ter para tirar os senadores Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos a não ser a tentativa de calar os dois naquela comissão? Não pode haver nenhuma outra razão. E se isso for, o fato é um golpe da presidência do Senado, através do PMDB. Creio que o Senado está chegando no limite da tolerância.

Ele acrescentou que discutiu com o líder de seu partido, Jefferson Peres (AM), se não seria o caso de parte da Casa reagir de maneira coletiva.

- Vale a pena continuar nessas comissões? Alguns vão dizer: mas isso é entregar tudo para eles. Quando a gente começa a falar "eles" e "nós", o Parlamento está ruim, o Parlamento não está bem - disse.

O presidente da CCJ, senador Marco Maciel (DEM-PE), divulgou uma nota lamentando o episódio. "Fiquei surpreendido com a decisão do líder do PMDB, senador Valdir Raupp, de afastar os ilustres e operosos senadores Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon da condição de membros titulares da Comissão de Constituição e Justiça. Minha estranheza é tanto maior quando se sabe que tal procedimento não está em harmonia com as tradições da Casa, caracterizada pelo respeito à opinião dos parlamentares", destacou o senador na nota. O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), foi outro que se solidarizou com os colegas peemedebistas por meio de um telefonema.

Ao deixar o Senado ontem à noite, Renan minimizou o episódio:

- Não tenho nada a ver com o que se faz nas bancadas, é uma substituição, algo normal em todos os partidos. Não sou líder, sou presidente do Senado, que é uma instituição suprapartidária.