Título: Dilma defende indicações políticas para estatais
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 05/10/2007, O País, p. 11

"Pensar que é possível uma gestão pura e simplesmente técnica é, para mim, uma ingenuidade tupiniquim", disse.

SÃO PAULO. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, chamou de "ingenuidade tupiniquim" a idéia de que as empresas públicas sejam gerenciadas apenas por técnicos. Defendendo-se das críticas do PMDB, que a acusa de tomar vagas do partido, a ministra avalizou a prática das indicações políticas, desde que os nomeados tenham competência técnica. As declarações foram feitas ontem, durante sabatina de mais de duas horas promovida pela "Folha de S.Paulo". Perguntada se é "mais técnica" ou "mais política", Dilma se disse "anfíbia".

- Pensar que é possível uma gestão pura e simplesmente técnica é, para mim, uma ingenuidade tupiniquim. Eu não acredito que em país algum do mundo alguém ache que seus dirigentes não tenham de ter um compromisso com a política de crescimento do país - disse a ministra. - Mas sei por que chegamos nisso. Teve momentos no Brasil que, através da política mais baixa, da barganha política, se utilizou cargo político dessa forma.

A ministra afirmou que não indicou o ex-senador José Eduardo Dutra para a presidência da BR e Maria das Graças Foster para a diretoria de Gás e Energia da Petrobras, principal revolta dos peemedebistas:

- Sou uma assessora do presidente Lula e não tenho iniciativas particulares. Eu tenho iniciativas de governo.

Ministra defende nomeação de Conde para Furnas

Entre as nomeações políticas defendidas por Dilma está a do ex-prefeito Luiz Paulo Conde, nomeado para a presidência de Furnas:

- Ele demonstrou competência de gestão. Não há nada que deponha contra a biografia profissional dele.

Dilma disse que a imprensa brasileira tem se mostrado "acrítica generalizada" em relação ao governo, e pediu espaço para mostrar ações federais. Perguntada sobre as relações do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, com a imprensa local, numa crise que levou ao fechamento da emissora de RCTV, a ministra rejeitou comparações:

- É absolutamente distinta a situação. Não estamos nessa fase de fechar jornal, de impedir manifestação. Estamos na fase de coibir abusos.

A ministra disse que não interessa ao Brasil "criar antagonismos" com Chávez nas questões econômicas da América Latina. Os dois países divergem sobre a criação do Banco do Sul: Chávez defende uma relação equânime entre os países, e o Brasil quer que cada país tenha voz de acordo com seu aporte.

- Aprendemos que não é a política do "Big Stick" que vai levar a posições adequadas.

Dilma negou a intenção de concorrer à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010 e atacou o PSDB. A ministra chamou de "propagandista" a bandeira do ex-governador e ex-candidato tucano à Presidência Geraldo Alckmin, o "choque de gestão".

- Só quem não gere fala em choque de gestão. Não se muda uma gestão com um choque. Só se maquia - disse ela. Esta semana, o presidente Lula usou a expressão "choque de gestão" para defender a contratação de mais servidores públicos.

Instigada por um integrante da platéia, que perguntou se não havia um elogio ao governo tucano, a ministra elogiou o ex-presidente Fernando Henrique pela criação da Lei de Responsabilidade Fiscal, mas criticou as privatizações e a falta de investimentos na área social.