Título: Guaribas, cidade-símbolo do Fome Zero, ainda na miséria
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 05/10/2007, O País, p. 12

Bolsa Família é dada a 96% dos pobres, mas não resolve.

BRASÍLIA. Após eleger Guaribas, no Piauí, como cidade-símbolo do Fome Zero em janeiro de 2003, a área social do governo evitou comentar reportagem publicada ontem no jornal "Correio Braziliense", que aponta falta de saneamento básico, estagnação econômica e aumento da evasão escolar no município. O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, criado em meio ao ocaso do Fome Zero, em janeiro de 2004, informou que nenhum técnico esteve em Guaribas recentemente. O ministério divulgou apenas que o Bolsa Família repassou R$57.220 para 660 beneficiários em setembro, cobrindo 96% dos lares abaixo da linha da pobreza.

Localizada a 650 quilômetros de Teresina, Guaribas foi escolhida para o lançamento do Fome Zero porque era o retrato do atraso. A falta de infra-estrutura levou o presidente Lula a cancelar a viagem que faria à cidade, em 2003. Em seu lugar, viajou o então ministro-extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome, José Graziano.

Quatro anos e nove meses depois, a qualidade de vida melhorou, mas problemas graves persistem, avalia a coordenadora de Segurança Alimentar e Erradicação da Fome do governo do Piauí, Rosângela Sousa. Entre os avanços, cita água encanada na área urbana, a redução do analfabetismo e o aumento de matrículas no ensino médio. Entre os desafios, falta de saneamento básico, de coleta de lixo e de pavimentação na estrada que liga Guaribas a Caracol, além da carência de água na zona rural, onde vive mais da metade da população de 4.576 habitantes.

- Encontramos o município em situação muito difícil e tivemos o cuidado de fazer ações simples e básicas. Guaribas vive muito da agricultura, e o dinheiro do Bolsa Família ainda é uma grande fonte. É preciso criar condições de emprego - diz Rosângela.

O Censo Escolar mostra que as matrículas no ensino médio subiram de 40 alunos, em 2003, para 219, em 2006. A escola hoje tem sede própria. Segundo a coordenadora, os estudantes recebem livros didáticos, têm acesso a laboratórios de informática, ciências e biblioteca. Em Guaribas, a existência de um bebedouro já é motivo de comemoração, assim como a água encanada, resultado de uma adutora construída nos últimos anos.

Desde 2003, 400 cisternas foram construídas na zona rural. Rosângela disse que o reservatório, ainda em obras, vai abastecer 800 moradores fora da área urbana. Ela afirmou que, depois de 2003, o analfabetismo caiu de 59% para 23,5%, e a mortalidade infantil, de 56% para 34%.