Título: Aeronáutica deixou de controlar aviões menores
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 05/10/2007, O País, p. 13

Ordem, motivada por falta de controladores, afeta 9.800 aeronaves fora dos grandes centros e preocupa pilotos.

BRASÍLIA. A Aeronáutica deixou de controlar vôos de aviões de pequeno porte que trafegam abaixo de 11 mil pés de altitude. A ordem foi baixada em outubro do ano passado, após o acidente com avião da Gol, e vem sendo reeditada seguidamente para as áreas distantes dos grandes aeroportos monitorados pelos Cindactas 1 (Brasília) e 2 (Curitiba). A medida, que tem gerado preocupação crescente entre pilotos e pequenas empresas, foi uma saída encontrada pela FAB para enfrentar a falta de controladores de vôo. Com a medida, eles ficariam liberados para monitorar mais aeronaves de maior porte.

O problema, alertam fontes do setor, é que voar ficou menos seguro, pois os pilotos não podem mais falar com os centros de controle para obter orientação como, por exemplo, aviso sobre a aproximação de outro avião. Com isso, os controladores também não têm informações sobre esses aviões, como prefixo da aeronave, em que nível está voando, para onde vai e quantos tripulantes há a bordo.

- Há uma frota de 9.800 aviões voando sem controle no país. A FAB está se recusando a prestar um serviço a esse segmento, o que é ilegal - disse o presidente da Associação Brasileira da Aviação Geral (Abag), Adalberto Febeliano, que emendou: - Para resolver o problema do excesso de tráfego, eles estão revogando uma doutrina. Sempre houve um movimento para incentivar os pilotos a se comunicarem com os centros de controle, por segurança.

Com a medida, pilotos de aviões como Cessna, Sêneca e Bandeirante, entre outros, além de helicópteros, foram proibidos de voar por instrumento abaixo de 11 mil pés, e só podem fazer vôo visual, com tempo bom, no nível de até 9,5 mil pés. O tráfego nesse intervalo também não é mais permitido.

- A medida restringe o espaço para a aviação geral, o que reduz a segurança, diante da falta de controle do tráfego. Nos Estados Unidos, todo espaço acima de 1,2 mil pés é controlado - disse o comandante Marcílio Oliveira, especialista em segurança de vôo.

- Como não posso mais voar no espaço controlado, tenho que sair do eixo da aerovia, o que é arriscado - contou o empresário goiano e piloto Vanildo Malde.

Vôos no interior não precisam mais de autorização

Com a norma, os pilotos não precisam mais apresentar plano de vôo. Eles fazem apenas notificação do vôo, quando a decolagem se dá num aeroporto. Na tela do radar, o controlador até vê o avião (um ponto), mas, como não fala com o piloto nem informa o código de transponder, que dá todos os dados do vôo, o tráfego é desconhecido.

Segundo um controlador, o piloto pode manter contato com o centro numa situação de emergência. Ainda assim, a segurança fica prejudicada, porque o piloto precisa primeiro identificar o avião, saber se tem autonomia de vôo (combustível suficiente), por exemplo, para prestar qualquer socorro.

- Numa situação de emergência, pode não haver tempo para isso - disse um profissional que pediu para não ser identificado.

Pela norma, um avião que decola do interior de uma fazenda em Goiás, por exemplo, somente manterá contato com a torre se for pousar em Brasília. Caso vá para o interior do Mato Grosso, não precisa de autorização de ninguém. Já quem decola de Guarulhos, Confins e Tom Jobim fala com os controles de aproximação. Essas são áreas controladas. Procurado na terça-feira, o Centro de Comunicação da Aeronáutica não atendeu ao pedido de informações até a noite de ontem.